Para quem nasceu na Era da Informação (Era Digital) com esta abundância de portais de notícias,- ou para quem nunca gostou de se informar por jornais impressos e preferia outros meios de comunicação como rádio e TV-, fica difícil entender a dimensão da alegria de um jornalista quando conseguia convencer ao editor que sua matéria deveria ser a manchete do jornal.
O mais curioso é que esta manchete tão desejada entre os colegas de todas as editorias seria veiculada somente no dia seguinte ao fato. E, sendo um jornal diário, a alegria do repórter durava 24 horas. Por um dia, o jornalista era o “dono” da melhor matéria daquela edição.
E sim, a notícia acontecia num dia e o jornal saia com as informações na manhã seguinte. Por muitos anos, as pessoas se informavam do fato de forma mais resumida pelos programas jornalísticos de rádio e TV, mas somente no dia seguinte saberiam a informação por completo nos jornais impressos.
Vocês podem me perguntar: como uma manchete de jornal conseguia ser um furo já que além do repórter que estava fazendo a matéria, tinham ciência do tema também o fotógrafo, motorista, editor de área, revisor, diagramador e editor geral do jornal? E te respondo que não era tão fácil conseguir a informação, a fonte e nem passá-la adiante.
Muitas vezes a construção de uma matéria dura vários dias, na busca de fontes confiáveis, das melhores fotos e do gancho perfeito. Mas nesta época não existia celular e muito menos WhatsApp, que facilita encontrar os entrevistados e a informação, mas também dificulta o trabalho com a viralização do fato antes que este vire matéria. Achar as pessoas pelo telefone fixo, encontra-la presencialmente em seu local de trabalho ou residência era o comum. Você já pensou nisso ou como era fazer uma pesquisa antes do Google?
Talvez por estas dificuldades, por construir e pensar pedacinho por pedacinho de uma matéria e também cada página do jornal, a alegria e satisfação destas 24 horas eram indescritíveis. Uma sensação totalmente diferente dos dias de hoje, onde a cada minuto ficamos sabendo de uma nova informação e um “furo jornalístico” é raro.
Em geral, estas manchetes eram escolhidas “sozinhas”, pois todos sabiam implicitamente que o fato mais importante do dia seria a matéria em letras garrafais na primeira página. Mas o excitante era mesmo quando, existiam duas matérias com temas inéditos ou com furo jornalísticos e, os repórteres precisavam “brigar” para conseguir a atenção do editor-chefe. A emoção de argumentar e “lutar” com o colega, muitas vezes em plena redação e na frente de todos, era uma emoção a parte. Muitas vezes tínhamos “torcidas”, que eram formadas pelos colegas que escolhiam determinado tema, e ajudavam nas alegações.
Você poderia ser o vencedor deste embate ou sair perdedor e conseguir uma submanchete, mas no dia seguinte estava lá você de novo buscando alguma notícia importante, e de preferência inédita, para seu leitor. E, se tivesse sorte, também conseguiria a manchete do dia e as suas 24 horas de felicidade!
Curiosidade 1
Você já pensou que não existiam celulares/câmeras na época e o personagem principal acabava sendo o repórter fotográfico. Não é à-toa que eles e os cinegrafistas costumam ir à frente com os motoristas. Eles saem primeiro do carro com mais agilidade para pegar o fato. Sem a facilidade dos dias de hoje, quando um fotógrafo perdia o fato, levava uma bronca do editor, pois a matéria teria que sair sem imagem.
Curiosidade 2
Os meios de comunicação percorreram um longo caminho até se tornarem o que as conhecemos hoje. Se formos analisar cronologicamente, elas surgiram nesta ordem:
1609: Primeiro jornal impresso, na Alemanha.
1894: Primeira transmissão de rádio, na Inglaterra.
1925: Primeira exibição pública da televisão, na Inglaterra.
1980: Primeiros grandes portais de notícias on-line, nos Estados Unidos.