Por Antônio Samarone *
Aracaju foi construída numa região pantanosa. Foi preciso um grande aterro e a ação humana para o embelezamento. Foi assim nos primeiros tempos. E Aracaju, foi ficando bonita.
O Prefeito Godofredo Diniz contratou os serviços do urbanista Wladimir Preiss, de São Paulo, para arborização e jardinagem da capital sergipana. Mais recentemente, um outro Prefeito mandou decepar centenas de árvores. Estavam atrapalhando os ônibus.
O engenheiro alemão Hermann Otto Wilhelm Arendt Von Altenesch, viveu pouco tempo em Aracaju, mas construiu bangalôs e outras casas em estilo europeu, que eram o sonho de consumo dos ricos e da classe média sergipana. Ajudou no embelezamento de Aracaju.
“Altenesch construiu o prédio do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, o edifício Serigy, na praça General Valadão, construído no lugar da Cadeia Pública, a sede da Associação Atlética de Sergipe, a Cidade de Menores “Getúlio Vargas”, considerada a sua obra prima, além de dezenas de residências espalhadas pelas ruas de Estância, Pacatuba, Itabaiana, Maruim e Barão de Maruim.” – Luiz Antonio Barreto.
O Palácio de Veraneio (Foto), que o governador quer vender para fazer caixa para a Previdência, foi projetado por Altenesch. Claro, os motivos da apressada venda são outros.
Exemplos da arquitetura do alemão Altenesch, ainda se encontra em algumas casas no primeiro trecho da Rua de Estância.
Atualmente, os ricos foram para os condomínios fechados, movidos pelos desejos de segurança e segregação.
Cada aracajuano passou a cuidar apenas do seu lote.
Desde 1985, com a chegada ao poder do atual grupo político, o Poder Público em Aracaju iniciou a “Era das Orlinhas”. Obras acanhadas, sem a beleza e sem a grandiosidade necessárias ao embelezamento da cidade. Talvez, por medo de serem acusado de fazer mau uso dos recursos públicos.
Um exemplo: a Rodoviária Luiz Garcia (a Velha) é um prédio estiloso, bonito; os atuais Terminais de ônibus são galpões pré-moldados, apenas para proteger os passageiros do sol e da chuva.
Não é uma questão de se gastar menos, é a opção pelo mau gosto.
Quando um líder político abandona o cidadão e volta-se apenas para o eleitor, desapareceu o estadista, que pensa a longo prazo. Gente do mercado vende a cidade inteligente, entre aspas, Eu retomo o sonho da cidade bela, como parte da qualidade de vida.
Nos últimos anos, a sede do governo foi para o Palácio de Despachos, no Leite Neto, um edifício sem graça e sem beleza e a Prefeitura abandonou o Palácio Inácio Barbosa no Parque Teófilo Dantas e foi para um galpão do Banco do Brasil, na Rua do Acre.
Agora, o Governador vai vender o Palácio de Veraneio. Claro, não é o majestoso Palácio El Escorial, de Felipe II, na Espanha, mas é o que temos.
Estamos enfeiando Aracaju, por oportunismo e cegueira política.
As cidades são locais de encontros, precisamos de espaços públicos que valorizem a beleza.
Essa vocação política pelo pequeno, pelo prático, pelo barato, pelo armengue, pelo funcional é puro populismo de mau gosto. Não se trata de construir “elefantes brancos”, nem “obras faraônicas”, queremos apenas a volta da beleza.
As duas últimas obras de embelezamento público em Aracaju foram a Orla de Atalaia e a Ponte Estaiada sobre o Rio Sergipe, iniciativas do Governador João Alves Filho. O resto é tapa buraco e pintura de meio-fio.
Por onde andam os arquitetos e urbanistas? Gente sonhadora e talentosa, que pensa no Belo e pode ajudar a desenhar o futuro de Aracaju.
* É médico Sanitarista e professor da Universidade Federal de Sergipe.