Por Antonio Samarone *
“Em cidades tornei fétidos brejos/ E fiz dos Charcos ressurgir o Império.” – J. César.
Para tornar-se sede do Governo de Sergipe, o Povoado de Santo Antonio do Riacho do Aracaju, foi elevado à categoria de Cidade (1855). A coorte provinciana recém-chegada, logo desceu a Colina, e começou a construir a Capital, nos mangues e alagados da Praia da Olaria, onde o impaludismo se alastrava.
Em 29 de junho de 1856, os médicos higienistas Guilherme Pereira Rebelo e Pedro Autran da Mota Albuquerque apresentaram o primeiro relatório sobre as condições de Saúde do Aracaju:
“Os estupores tão frequentes no Aracaju, as moléstias catarrais, a facilidade com que os hidrópicos ali se estabelecem, as frequentes supressões da transpiração cutâneas, que facilmente se convertem em febres intermitentes, tudo isso devido ao meio que se respira ser constantemente saturado de miasmas dos pântanos…”
Contratou-se um traçado urbano, uma planta da cidade, ao engenheiro Sebastião José Basilio Pirro. As retas de Pirro chocavam-se com as curvas do Rio. Começaram os aterramentos. Até fevereiro de 1856, 10.425 braças de aterros já tinham sidos concluídas
Não foi fácil. De imediato, Inácio Barbosa mandou fazer uma estrada ligando o antigo povoado à planície litorânea, infestada de miasmas. A urbanização só chegou a Praia Formosa no início do século XX e, a Atalaia, na década de 1950.
A primeira sede do Governo da nova Capital, onde Inácio Barbosa despachava, dava expediente, é consenso que foi na Colina de Santo Antonio, na casa de Benedito F. do Santos. Entretanto, Barbosa não morou nesse local.
O padre Aurélio conta que Inácio Barbosa vivia numa casinha em uma roça de mandioca, na baixada, na Praia erma, onde funcionavam a Alfândega, e existiam algumas choupanas de pescadores. Foi aí que ele contraiu a sezão, que o vitimou.
A pequena casa, de taipa e telha, duas salas, onde morava o Presidente Inácio Barbosa (Palácio), era uma casa cedida pelo proprietário, sem pagamento de aluguel, com o compromisso da realização de reformas, pelo Poder Público.
Depois de muitas pesquisas, se sabe hoje que a Casa que serviu de Palácio pertencia à Dona Rufina Francisca de Araújo e, ao mestre Oleiro, Vicente Ferreira dos Santos e localizava-se nas proximidades do Atual Museu Palácio Olímpio Campos.
Em 1857, a residência oficial do Governo de Sergipe passou para um palacete provisório (que eu ainda não descobri onde foi), até a construção do Palácio Oficial, em 1863. A sede do Governo lá permaneceu até 1995. Em 2010, foi transformado em museu.
Aracaju é filha do saneamento, mangues e charcos foram aterrados. Hoje paga-se um preço. Parte do esgoto sanitário chega aos rios “in natura”, com tratamento parcial ou insuficiente, tornando as bacias dos nossos rios, impróprias para a convivência humana. A DESO fazia de conta que cuidava.
Recentemente, o governo privatizou os serviços de saneamento (água e esgoto sanitário). O dinheiro arrecadado será torrado em ações efêmeras. Recentemente, a volta dos “carros pipas”, foi anunciado com fanfaras e foguetórios.
Aracaju completa 170 anos, refém da precariedade do saneamento ambiental.
* É medico sanitarista e está secretário da Cultura de Itabaiana.