Este ano sem eleições serve para as arrumações de olho em 2026
25 de fevereiro de 2025
Casal coroado assume reinado do Carnaval na próxima sexta
25 de fevereiro de 2025
Exibir tudo

Ainda é possível aproveitar o Ouro Azul? O Canal de Xingó e o futuro da Região (II)

Carlos Hermínio atua na região do Baixo São Francisco desde 1980

Por Carlos Hermínio*
Continuando o artigo anterior, aqui versaremos sobre os benefícios da implantação do Projeto do Canal de Xingó, usando como paradigma o projeto da transposição das águas do rio São Francisco, entendendo que nosso Estado não poderia nunca deixar de ser compensado com uma ação do governo federal.
O Canal de Xingó é um projeto essencial para garantir a segurança hídrica e o desenvolvimento econômico do semiárido sergipano e baiano. Originalmente, no nosso livro, Luzes do Farol do Cordouan para o Rio São Francisco, relatamos que a vazão projetada era de 36 m³/s, porém, recentemente foi reduzida para 31 m³/s. No entanto, os benefícios continuam sendo imensos, especialmente para Sergipe, onde o projeto é a única solução concreta para eliminar o déficit hídrico do estado até 2050, além de impulsionar a agricultura, a pecuária e a agroindústria.
O custo estimado do Canal do Xingó de R$ 4,5 bilhões, é um valor significativamente menor do que os mais de R$ 15 bilhões gastos nos canais da Transposição do Rio São Francisco.
📌 Os números comprovam a viabilidade do projeto
Com 290 km de extensão, o Canal do Xingó irá garantir segurança hídrica diretamente a 2,8 milhões de pessoas e transformará a economia de toda região semiárida de Sergipe e parte da Bahia. Veja os impactos mais relevantes com base nos dados técnicos do projeto:
✅20.000 hectares irrigados novos e existentes, impulsionando a produção agrícola e pecuária, com a redução dos atuais custos de captação de água e das tarifas d’água;
✅7.000 unidades produtivas da agricultura familiar e 39 assentamentos da reforma agrária com acesso á água para consumo e produção;
✅Abastecimento para 2,7 milhões de habitantes em Sergipe até 2050;
✅90.000 empregos diretos e indiretos gerados;
✅R$ 500 milhões em renda líquida anual com a produção agropecuária e agroindustrial;
✅108% de crescimento no PIB dos municípios beneficiados
📌 Benefícios do Canal de Xingó por Estado
📍 Bahia: segurança hídrica e expansão da irrigação
• 0,61 m³/s destinados à Empresa Baiana de Águas e Saneamento (Embasa), garantindo água para 180 mil habitantes até 2050.
• Projeto de Irrigação de Santa Brígida: 9.637 ha irrigados com vazão disponível de 8,50 m³/s de água;
• Desenvolvimento de agroindústrias: indústrias de laticínios, carnes, frutas e mel.
📍 Sergipe: fim do déficit hídrico, crescimento econômico baseada na bacia leiteira do Alto Sertão
• 8,41 m³/s para abastecimento público, beneficiando 2,7 milhões de habitantes até 2050.
• 4 grandes projetos públicos de irrigação somam 6.091 ha irrigados: Califórnia e Jacaré-Curituba, em operação; Manoel Dionísio e Nossa Senhora da Glória a serem implantados;
• Povoados Rurais ao longo do Canal, localizados em até 5 km de ambas as margens, através de sistemas simplificados isolados, para uma população projetada de 17.700 habitantes em 2050.
• 39 Projetos de assentamentos rurais do Incra e do Estado de Sergipe, terão acesso à água, totalizando 46.755 hectares ocupados por 1.904 famílias de agricultores familiares. Os assentamentos contarão com sistemas próprios para fornecimento de água a partir do Canal, com irrigação em 1.877 ha de capineiras, além da dessedentação animal e demais usos;
• Produção agropecuária: Implantação de Pulmões Verdes para garantir alimentação do gado na seca, irrigando 4.117 hectares
• Atendimento de agroindústrias a serem implantadas, entre as quais as indústrias de laticínios, de carnes, de beneficiamento de frutas e de mel e derivados. Produção esperada de: 52 milhões de litros de leite/ano, 2.500 toneladas de carne/ano, 3.000 toneladas de doces e polpas de frutas/ano e 1.000 toneladas de mel/ano

💰 Tarifa de água: muito mais barata para o irrigante e o assentado
A Transposição do Rio São Francisco terá tarifas mais elevadas, devido ao custo de bombeamento e manutenção, se comparada ao futuro Projeto do Canal de Xingó; este, por operar 100% por gravidade, terá tarifas muito mais acessíveis, o que na prática significa que pequenos produtores rurais e agricultores familiares dos assentamentos rurais terão acesso à água a um custo muito menor; o custo operacional reduzido permitirá uma distribuição mais eficiente da água para irrigação e agroindústria, e permitirá ter mesmo a irrigação de culturas de subsistência, até mesmo o quiabo, cultivo predominante no Projeto Califórnia.
Ora, a nossa experiencia com a irrigação na Codevasf, no Baixo São Francisco, tem mostrado que, se vier a incidir no custo da tarifa d’água o valor da energia de bombeamento, o irrigante não tem como suportar este custo; o que tem implicado que a Codevasf vem arcando com tais despesas, situação idêntica, ocorre também nos perímetros irrigados do Governo do Estado.
Portanto, esse cenário, foi o que pesou quando no estudo de viabilidade do Canal de Xingó, pois, uma das alternativas, de se captar a agua diretamente na tomada d’água da ombreira direita da barragem de Xingó, (veja fotos a seguir) se defrontou, com a incidência do custo do bombeamento para vencer o recalque para as terras irrigáveis, já que o Projeto Califórnia apresentava altos índices de inadimplência das tarifas d’águas; por isso, que surgiu a alternativa da captação das aguas por “gravidade” no reservatório de Paulo Afonso IV e, à época, em 2009, o saudoso ex-Governador Marcelo Déda fez o acordo com o Governo da Bahia, Jaques Wagner, para que isso fosse possível, tudo com o aval do Presidente Lula!

Face a grande extensão do Canal de Xingó, o Projeto foi dividido em 4 fases, sendo a 1ª Fase, indo da captação, em Paulo Afonso IV, até o km 114,5, tendo sido realizada um anteprojeto em 2016, e posteriormente, concluído o projeto básico, em 2022. Em 2023, foi iniciado a elaboração do Projeto Executivo do Lote 1 da 1ª Fase, trecho da captação até o km 50,6, porém devido a questionamentos da sua viabilidade, pelo TCU e ANA, o mesmo encontra-se paralisado pela Codevasf, aguardando orientações do MIDR quanto à sua continuidade.
Ora, o vizinho Estado de Alagoas já vem sendo contemplado com o Canal do Sertão Alagoano, enquanto que o governo da Bahia está demonstrando seu interesse pelo Canal do Sertão Baiano, no Norte do estado, atendendo áreas dos municípios das bacias hidrográficas do Salitre, Tourão/Poções, Itapicuru, Jacuípe e Vaza-Barris, com distribuição por 297 quilômetros de canais. Quer dizer, as terras baianas de Paulo Afonso e Santa Brígida, onde percorrem os 43 km iniciais do canal de Xingó, não estão atirando o interesse das lideranças baianas e por conseguinte vem inviabilizando por completo o atendimento aos interesses de nós sergipanos, que precisamos agir e buscar unir esforços de todos aqueles que detém poder e capacidade, de somados, entender que os inúmeros benefícios apresentados neste artigo, buscam reverter um cenário histórico de aridez, sofrimento e de pobreza do semiárido sergipano!

*Conselheiro representante dos empregados no Consad/Codevasf

Compartilhe:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *