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A feira de Glória vista por uma acadêmica de Geografia

Banca de frito, onde se come as delícias da região, a exemplo da galinha caipira

A feira livre de Nossa Senhora da Glória, no sertão de Sergipe, é uma das mais movimentadas do Estado. O animado encontro semanal de comerciantes e consumidores foi retratado por Fabianne Torres Oliveira na monografia que fez para a conclusão do curso de Geografia da Universidade Federal do Espírito Santo. Concluído em 2010, o estudo acadêmico foi batizado de “Geografia da Feira de Nossa Senhora da Glória-SE: territórios, narrativas e marcas da caltura”. Veja, a seguir, alguns trechos da bem elaborada monografia e faça um saboroso passeio pela maior feira do semiarido sergipano.

“Nosso estudo sobre a Feira de Glória está traduzido nos cardápios de comidas típicas, nas bancas de remédios milagrosos, livros de cordel, artesanato, cerâmica, artigos de couros, panelas, legumes, frutas, bancas DVD’s e CD’s, venda de animais vivos e abatidos, roupas, produtos eletrônicos e outras quinquilharias. São também misturas de localismos e territorialidades percebidas nos diferentes sotaques, transportes, fisionomias e nas distintas origens e marcas de seus produtos.

É na feira também aonde iremos nos deparar com as intensidades e os decalques do lugar, percebidos em uma série de ações, de afetos e de gestos dispostos em uma série de micro-eventos – interações entre os personagens que compõem os espaços públicos e os espaços privados, desvendados nas disposições das bancas, nos diversos ritmos e caminhos escolhidos para fazer o percurso, nas jocosidades, nas conversas dispersas, nos sons, nos cheiros e nas performances e jogos corporais para atrair os clientes.

Comidas típicas

Os botecos de comida são grandes tendas (barracas) de madeira e de lona improvisadas nas calçadas e ruas nos dias de feira. Dentro delas seus donos preparam as refeições que irão ser vendidas e consumidas pelos seus freqüentadores (feirantes, visitantes e fregueses da feira). Estes botecos dão testemunho da extensão da feira, que requer montar sua própria infraestrutura para dar sustentação aos feirantes.

Seu cardápio é bastante variado e bem típico do sertão nordestino, sendo que há uma pequena variação entre o que é servido no almoço e na janta. Geralmente, é possível encontrar feijão, carneiro cozido, sarapatel de porco, buchada de bode, galinha da capoeira e carne assada, para o almoço. Na janta, são oferecidos outros pratos como a macaxeira cozida, cuscuz de milho e inhame. Além da tubaína, são servidos café e algumas bebidas alcoólicas. A comida é preparada ali mesmo em um fogão tradicional ou fogareiros a brasa e servidas em uma ou duas grandes mesas e as pessoas se assentam em um extenso tamborete, de frente uma das outras.

No sábado, ainda cedo, começa a feira dos animais vivos como galinhas de capoeira, galos, porcos, carneiros e animais de caça como teiús, pássaros, tatus e até cobras. Esses animais são vendidos para atravessadores e varejistas, que disputam os melhores animais e os melhores preços. Essa é uma faceta curta da feira, pois os vendedores conseguem apressar e vender suas iguarias até, no mais tardar, às oito ou nove da manhã.

Na esfera humana, observam-se senhorinhas com lenços nas cabeças, vestidos de algodão estampado e sandálias rasteiras; senhores com chapéus de couro, calças de linho e botas; jovens e adultos comprando bonés, roupas e calçados da moda. Trata-se de um cenário de intensa mobilidade, cores e biotipos que retratam a diversidade local e marcam a territorialidade com imagens contrastantes e impactantes.

Na feira tem de tudo

Nessa paisagem complexa, de múltiplas faces, competem pelo mesmo espaço vendedores de remédios milagrosos e ervas medicinais, doces típicos, queijos feitos no município, folhetos de cordel, artesanato de cerâmica, bordados, brinquedos de madeira, artigos de couro (celas, rédeas, arreios, chapéus de couro, coletes, sandálias e botas), chapéus de palha, cordas, esteiras, panelas, lamparinas, armas brancas e outras quinquilharias.

A Feira de Glória também conta com o universo fashion e hight tech de roupas sintéticas – clones baratos de grifes da moda-, videogames, celulares, brinquedos eletrônicos, enfim, toda sorte de eletroeletrônicos nacionais e importados de origem fiscal duvidosa.

As fileiras das bancas logo viram corredores lotados – em uma mesma rua são criadas duas ou até mesmo três filas de bancas –, algumas chegam a tomar as calçadas que, com o tempo, mais se assemelham a labirintos humanos onde cada um parece ter um itinerário e um ritmo diferentes. Alguns caminham lentamente, observando os produtos a serem comprados, parando para conversar com outros fregueses e feirantes, outros parecem já ter traçado sua trajetória caminhando rapidamente.

Quanto aos diferentes percursos, muitos tomam o sentido Mercado de Talho de Carne para o Ceasa, enquanto outros preferem o sentido contrário ou até mesmo outra rota. Em outro ritmo, estão os passeantes ou os fregueses “desatentos” no “fazer a feira” que ora param em uma barraca de compras, ora param em uma barraca de jogos de azar (jogos de roletas, cartas e argolas), na banca dos fumos, das cachaças, nas de pastéis e botecos de comida. É um público diverso, multifacetário e difuso que se espalha e se ajunta num dinamismo cultural, que evidencia as marcas do “espaço-feira” como o locus de socialização e territorialização”.

(Crédito/Fabianne Torres Oliveira)

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