Ao passar pelo quilômetro oito da rodovia estadual Engenheiro Jorge Neto, que liga o município de Nossa Senhora da Glória à Feira Nova, no semiárido sergipano o turista depara-se com uma cena jamais vista em nenhum outro lugar. A frente de uma casinha humilde construída com tijolos, sem nenhum aprimoramento e nem reboco, existem figuras pitorescas em que o viajante a primeira vista se espantará, por não saber ao certo do que tratam aquelas figuras imóveis. Estas adquirem diversas representações, são mulheres grávidas, cobras, cortejos fúnebres, seres imaginários…
Todos alí no silêncio, apenas observando o mundo ao redor, vivenciando o espanto do viajante que fica a observar tamanhas figuras, imaginando-se em um sonho da vida real. É neste sítio chamado “Soarte” que reside um homem de fisionomia simples, marcado pela vida humilde vivida no Sertão.
Cícero Alves dos Santos, artista sergipano, nascido no alto sertão de Nossa Senhora da Glória, em 12 de Maio de 1947, ficou conhecido por esculpir peças em madeira. Seu apelido, “Véio”, foi dado longo em sua infância por ser uma criança que se inseria nos diálogos dos mais velhos a fim de absorver sua sabedoria. Por conta disso, aos cinco anos é que ficou conhecido por este nome, sendo assim chamado até hoje.
Usava cera de mandaçaia
Começou seus trabalhos utilizando a cera de mandaçaia, tipo de abelha comum na região Gloriense. Porém, o seu principal objeto de trabalho é a madeira. E são de diversos tipos: mulungu, jurema, entre as quais ele também já usou, a exemplo da madeira de goiabeira, imburana e a graúna.
Filho de agricultores, Véio trabalhou na roça durante a infância, fazendo suas peças às escondidas, pois, para seus pais todo seu esforço deveria ser posto na agricultura. Hoje seu sustento ainda se baseia no trabalho da roça, e as suas peças são atribuídas como um lazer.
As obras de Véio recebem cuidados antes e depois de prontas. São extraídas madeiras que já se encontram dispostas na natureza. O próprio Véio afirma que a árvore escolhida já se encontra “morta”, sendo sua tarefa como artesão dar-lhe vida. Logo após a extração da madeira, acontece todo o processo de modelagem e forma, finalizando em algumas peças um revestimento de tinta nas partes em que o artesão deseja destacar.
Véio prefere manter suas peças em estado bruto para assegurar o aspecto rústico, típico do sertão. E são de vários tamanhos e cumprimentos, desde as maiores com cerca de dois metros, até as menores, não enxergadas a olho nu, apenas com o auxílio de lupa. Por estas miniaturas em madeira “Véio” ficou conhecido mundialmente entrando no Livro dos Recordes – Guinees Book.
O reconhecimento internacional é um assunto que o artista prefere não falar, pois dá pouca importância às homenagens, justificando que não se sente a vontade quando trata de si. Sua fama não foi exclusivamente dada ao fato de ter entrado no Guiness, Véio já era conhecido em algumas partes de Sergipe. Logo que criou um museu ao lado de sua casa, chamado de “Museu do Sertão”, reunindo diversos objetos antigos, entre eles utensílios usados no dia a dia do homem do sertão, seu nome ganhou ainda mais reconhecimento.
Atualmente continua vivendo em Nossa Senhora da Gloria, casado com Maria da Graça, esposa que dedica todo seu cuidado a este homem, agricultor e artista sergipano.
Texto de Ticiane dos Santos, graduanda em História Licenciatura Plena pela Universidade Tiradentes. (Crédito/artepopularbasil.blospot.com)