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Voando do Polo Norte a Sergipe

Guiadas pelo instinto de sobrevivência as aves migratórias viajam o ano inteiro

Elas têm aparência frágil, são pequenas, mas possuem uma força nas asas que as permite voar milhares de quilômetros para fugir do frio do Hemisfério Norte em direção ao calor do Polo Sul, em busca de alimento e descanso, garantindo a preservação da espécie. São as aves migratórias que frequentam as praias e rios de Sergipe após viajar até 12 mil quilômetros numa velocidade de até 90 km/h.

O maçarico-de-papo-vermelho (Callidris canutus) está entre essas espécies que passam por Sergipe. Essa ave realiza uma das mais longas migrações de uma ave limícola segundo pesquisa realizada pelo Projeto de Conservação de Aves Migratórias Neárticas no Brasil. O ponto de partida é o Ártico e a chegada o Sul da América do Sul com passagem pela costa brasileira.

O biólogo Marcelo Cardoso participou deste projeto e pesquisou a presença das aves migratórias em solo sergipano. O maçarico-de-papo-vermelho foi encontrado na foz do São Francisco e no estuário do rio Sergipe. De acordo com ele, a paragem das aves tinha como objetivo, o descanso e a alimentação.

Pouso de sobrevivência

De acordo com o Projeto, mais de 80 espécies desses pássaros dependem de habitats brasileiros para sobreviver. Em Sergipe, há pelo menos 20 que empreendem anualmente a jornada migratória e chegam à praia da Atalaia e aos estuários dos rios Sergipe, Poxim, Vaza Barris, Piauí, Fundo e Real, além da foz do São Francisco.

Na foz do rio São Francisco, numa área aproximada de 100 km², foram encontrados batuíras, maçaricos e outras espécies. Os maçaricos foram encontrados em maior quantidade ao longo das praias de Piaçabuçu, em Alagoas, acompanhando barcos de pesca. Foram localizadas, também, batuíras.

Ameaças 

A viagem desses pássaros por si só já é uma ameaça. Enfrentam tempestades, raios e ventanias na jornada que chega a mais de 10 mil quilômetros batendo asas para fugir da invernada. Mas, não são apenas as intempéries, de acordo com Marcelo Cardoso, que ameaçam a vida desses viajantes do céu.

Os riscos variam de local, mas convergem a um ponto comum: à perda do habitat e à poluição em decorrência do crescimento populacional das cidades localizadas no entorno dos rios e das praias.

O complexo do estuário dos rios Piauí, Fundo e Real, que abrange os municípios de Estância, Santa Luzia do Itanhy e Indiaroba, apesar de estar inserido em Área de Preservação Ambiental, também oferece ameaças. Efluentes industriais despejados no rio Piauí, destruição das restingas e das matas, oferecem sérios riscos, de acordo com a análise do pesquisador.

A recomendação para preservar esse sítio é a mesma que serve para os demais: conservação do complexo por meio da adoção de políticas públicas que contemplem a manutenção da vegetação e campanhas de planejamento familiar para tentar conter o crescimento populacional.

Já no estuário do rio Vaza Barris, que alcança as cidades de Aracaju, São Cristóvão e Itaporanga, a implantação de loteamentos e condomínios é uma das principais ameaças à garantia de preservação desse local de passagem das aves. Principalmente no Mosqueiro, onde as migradoras descansam e se alimentam em locais como a Croa do Goré, há a necessidade de um olhar mais preservacionista. Segundo a pesquisa, a carcinocultura, também oferece ameaças.

Presença o ano todo

E como essas aves vencem as distâncias e conseguem chegar ao destino certo? O Projeto de Conservação que o biólogo Marcelo Cardoso participou não se prendeu a essa questão, apenas ao registro das espécies encontradas e as ameaças que as cercam, bem como apontar recomendações conservacionistas.

Mas, matéria publicada na Revista Superinteressante aponta para alguns possíveis aspectos levantados pelo ornitólogo alemão Frieder Sauer: as aves se orientariam pelas constelações (as de voo noturno), por vibrações sonoras  ou ainda por uma espécie de memória das espécies que reconheceriam em pleno ar, a localização por onde já teriam passado e que as levaria ao lugar de clima quente e de comida farta.

Guiadas pelo instinto de sobrevivência, essas espécies viajam pelo céu brasileiro o ano inteiro, variando apenas o tempo de permanência de acordo com a espécie de pássaro. Por exemplo, as espécies migratórias encontradas pelo biólogo Marcelo Cardoso, no rio Vaza Barris frequentam aquele estuário em maior número entre setembro a março.

Por Célia Silva (Publicado originalmente no Jornal da Cidade)

 

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