Um dos processos mais relevantes para o desenvolvimento da produção agrícola, a irrigação vem ganhando terreno significativo na agricultura. Isto se reflete nos números de Sergipe, por exemplo, estado onde houve crescimento de mais de 90% no número de estabelecimentos com uso da irrigação entre 2006 e 2017.
De acordo com o engenheiro agrônomo, os principais desafios para o produtor rural que deseja ter sua propriedade irrigada são o acesso à água – principalmente em locais como o semiárido sergipano – e a elevada salinidade e sodicidade do lençol freático. Além disso, tanto o acesso à energia elétrica de qualidade quanto o elevado custo para implantação dos sistemas tornam o procedimento muito caro para o produtor que pensa em fazer isso por conta própria.
Dessa maneira, alguns projetos e iniciativas governamentais voltados para a irrigação são fundamentais. Um deles é o Platô de Neópolis, projeto do governo estadual de Sergipe, que conta com uma infraestrutura para produção agrícola na região do Baixo São Francisco.
Água do Velho Chico
Segundo Ricardo Barroso, técnico na área de operação e manutenção da Associação dos Concessionários do Distrito de Irrigação de Neópolis (Ascondir), entidade que capta e distribui a água do Rio São Francisco ao longo do projeto, o Platô de Neópolis só existe por conta da irrigação. “Em um ano, temos apenas uns quatro meses de chuva, que vai de abril a junho. Por isso, a irrigação faz com que o projeto exista e produza o ano inteiro”, assegura.
Um dos produtos mais importantes no Platô de Neópolis é o coco-da-baía. E cultivá-lo só é possível por conta da irrigação por microaspersão. Essa técnica, a mais utilizada no estado, alcançando mais de 3 mil estabelecimentos agropecuários, consiste em lançar a água de forma rápida e eficiente, com precipitação suave e uniforme, sendo considerada de fácil manutenção.
Quase 88% da área destinada ao plantio do fruto, no Platô, é ocupada pelo coco verde, que fornece a água de coco. O produto, vendido in natura ou envasado, conquista cada vez mais consumidores, impulsionados pelo turismo das praias nordestinas e pela população cada vez mais adepta à alimentação natural. Saudável, não engorda e é recomendado até na recuperação de pacientes hospitalares. A produção irrigada de Neópolis contribui com quase todo coco produzido em Sergipe, terceiro produtor no ranking nacional, com mais de 230 mil toneladas do fruto em 2016, segundo dados da pesquisa Produção Agrícola Municipal do IBGE.
Produção de arroz
Além do coco, o arroz também é muito comum em Neópolis. Por lá, os agricultores apostaram na irrigação por inundação há mais de 40 anos. Um desses produtores é José Leite, 64 anos, que possui uma propriedade no Perímetro Irrigado de Betume, e participa do projeto da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), que atinge, além de Neópolis, os municípios de Ilha das Flores e Pacatuba, no Baixo São Francisco.
José é dono de um dos 2.860 lotes contemplados pelo projeto. O agricultor familiar conhece bem a importância da irrigação para sua plantação. “O arroz era plantado somente no período de chuvas, mas com a irrigação podemos plantar independentemente do período do ano”.
Também exporta
Ocupando uma área total de 10.422ha, dos quais 6.900ha de área plantada irrigada, o Platô de Neópolis oferece a terra fértil que possibilita a produção de 62 mil toneladas de frutas por ano, 3 mil t de mandioca, 310 mil t de cana De açúcar, além dos 40 milhões de cocos/ano. Cerca de 95% da área total encontra-se ocupada e produzindo. No lote 20, um dos maiores do projeto (507ha de área irrigável), o forte é a produção do limão Taiti sem sementes. Na alta safra, são colhidas cerca de 1.500 caixas/dia da fruta. Parte dessa produção é voltada para o mercado sergipano e de estados vizinhos, como Alagoas e Pernambuco. A outra fatia é destinada à exportação.
Fonte: IBGE (Fotos: Cohidro)