* Por Amaral Cavalcante
(A propósito de certa conversa com um jovem poeta)
A poesia é para quem se alimenta de proteínas etéreas.
Barriga no chão,
o olho entrecruzando outra galáxia.
O fígado baço,
panturrilha retesada,
pés crestados, olhar parvo e alucinado,
o poeta é uma coisa amorfa
empanturrada de estrelas.
Poesia é para quem se explode em vigor e impaciência
das coisas ancestrais
das duvidas,
do próprio alumbramento.
E para quem, de repente,
numa segunda feira sem graça,
vê cair uma estrela madura em seu quintal.
Achou?
É sua, meu irmão!
Mas cuide que ela pode torrar suas cercanias de gozo e prazer
e incinerar todos os vocábulos que fizeram de você um exitoso malversador de alegorias.
.
Faça com que um dia ela volte aos brilhos do pomar celeste,
ao anonimato em miríades iguais.
E Alimente-a, por enquanto, com palavras efêmeras
como a palavra algaravia, por exemplo,
que alça voo com a alegria dos pássaros e não volta nunca mais.
Cuidado poeta,
ela queima!
* Amaral Cavalcante é jornalista, cronista e poeta de mão cheia.