O trabalho infantil está longe de acabar. No campo e na cidade, meninos e meninas são sujeitos a trabalhar para ajudar os pais com as despesas familiares. Segundo dados da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio (Pnad 2016), do IBGE,1,8 milhão de crianças e adolescentes de 5 a 17 anos exercem atividades laborais no Brasil. Em Sergipe, o número chega a mais de 47 mil.
O trabalho infantil no campo tem características um pouco diferenciadas em relação ao da cidade. Tentar entender essas diferenças foi o que levou a professora Rafaela Santos a realizar sua dissertação de mestrado, no Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFS. Sua pesquisa teve como foco a cidade de Aracaju e a zona rural de Itabaiana, por estarem entre os municípios com maior concentração de trabalho infantil no estado.
Ao fazer o trabalho de campo, a pesquisadora identificou o perfil do trabalho infantil na cidade e no espaço rural. Ela pretendia caracterizar quem são os atores sociais, quais atividades realizam, qual a renda média adquirida, dados referentes à educação e o que levou essas pessoas a se inserirem no mundo do trabalho tão precocemente.
“Na cidade, as crianças e adolescentes trabalham muito nas feiras livres, com uma jornada maior do que no campo. Dentro da jornada de trabalho que encontramos em Itabaiana, por exemplo, 45% trabalhavam entre 1 e 5 horas. Já em Aracaju, algumas trabalhavam mais 16 horas na feira”, diz Rafaela.
Violência e evasão escolar
Também foi observado no estudo que a defasagem escolar e a violência são maiores na cidade. Entrevistas realizadas pela pesquisadora mostram que 59% dos pequenos trabalhadores das feiras livres da cidade (Aracaju) já reprovaram de ano pelo menos uma vez, e 45% dos entrevistados afirmaram não mais frequentar a escola. Já os entrevistados no campo, apesar de 42% já terem reprovado pelo menos uma vez, todos informaram que estudam.
“Na cidade, as crianças acabam perdendo mais aulas, abandonando e reprovando muito mais. E a gente nota também que no campo elas vão ao turno oposto. Em relação à violência, as crianças da cidade são muitas vítimas do assalto, das brigas de ruas. No campo, a violência tratada lá é de outra forma”, conta a pesquisadora. Em sua pesquisa, Rafaela relata que a violência no campo está relacionada a exposição excessiva ao sol e as broncas e xingamento dos “patrões”. 13% dos entrevistados afirmaram sofrer um tipo de violência.
Crise agrava o problema
De acordo com Rafaela, a ausência de financiamento, a redução de crédito para o campesinato e a crise do desemprego são alguns dos fatores que implicam em colocar mais crianças no mercado de trabalho. No campo, o uso da força de trabalho infantil é mais utilizado para a produção da subsistência da família. Na cidade, a situação das crianças e adolescentes é mais grave, uma vez que eles desempenham funções, na maioria das vezes, longe dos olhares da família, sujeitos a todo tipo de violência e degradação.
Fonte: UFS (Fotos/UFS e F5News)