Por Antônio Samarone *
A grande reclusão deixará sequelas nos idosos.
Os idosos foram os que mais sofreram o impacto dessa Pandemia, foram alvo de muitas novidades. O vírus é perigoso para eles. A pegada deixada pelo isolamento desses meses será profunda. Não apenas para aqueles que vivem em residências (asilos), onde houve milhares de mortes, e o confinamento é mais difícil.
Nos EUA, a maior parte das vítimas fatais é de idosos em asilos. Por que morrem tantos por lá?
Porque os asilos foram privatizados durante a praga neoliberal e passaram ao controle de fundos de investimento. E eles fizeram o que costumam fazer, cortaram pela raiz: serviços, funcionários e insumos.
A restrição de contatos sociais afetou profundamente os idosos. Gerou ansiedade e depressão. Se houver demência, a alteração da rotina pode gerar distúrbios do sono ou até agressividade ou agitação.
Mas, a grande imprensa publica apenas, que a grande mortalidade da Pandemia ocorre em asilos de idosos, como se fosse uma lei da natureza. Não procura saber como eles estão vivendo.
Qual é situação dos idosos nos asilos de Aracaju, durante a Pandemia?
O Centro de Diabetes de Sergipe, localizado à rua Guilhermino Resende 336, a mesma rua da Igreja São José, está recebendo alimentos não perecíveis, fraldas geriátricas e papel higiênico para ofertar ao SAME.
Em Sergipe, os nossos velhinhos, além das mazelas acima, passam por carências materiais. Podem levar sem sobrosso. O pessoal que está arrecadando não tem segundas intenções.
A Pandemia afetou profundamente a vida dos idosos, mesmo dos que ainda não foram contagiados.
A pandemia causou medo e pavor aos idosos. Medo de adoecer, de morrer sozinho, de não poder acompanhar os entes queridos, de não poder se despedir, medo das penúrias, de perder o sossego, medo do colapso existencial.
A mensagem da Peste precisa ser decifrada. Qual o recado da natureza?
Estamos assistindo a implosão dos Estados Unidos, um Império desmoronando. Um modo de vida em decomposição. Claro, não será da noite para o dia, mas já começou.
“O Brasil é um país minado pelo cinismo, pela violência e pela corrupção, por desigualdades crescentes, pelo fiasco da esquerda brasileira, que não pôde promover uma sociedade que se voltasse ativamente para o progresso coletivo.” Safatle.
Vivemos esse pesadelo: um governo militar teocrático feito para implementar um programa ultra neoliberal. Vivemos o medo do fascismo.
A desigualdade no Brasil é um insulto a humanidade.
O Papa Francisco entendeu a mensagem do vírus: “em um mundo doente, não podemos esperar que os seres humanos sejam saudáveis”.
Precisamos entender as causas da Pandemia.
A chegada do covid-19 colocou a questão ecológica no centro do debate. São evidentes os laços entre as epidemias e os danos infligidos à Terra. Somos parentes próximos das baratas, morcegos, vermes e micróbios. E até das ervas daninhas e vegetais de todos os tipos.
Os seres humanos formam um conjunto único com as outras espécies animais e vegetais que povoam a Terra, como pensava Darwin.
Como sanitarista eu conhecia as zoonoses, agora eu descobri o transbordamento. Deixe-me explicar:
Os animais, privados do seu ecossistema, do seu habitat natural por nossos desmatamentos, cimentação, contaminação e expansão industrial e imobiliária, ficam doentes; e os vírus que os habitam, para sobreviver, refugiam-se em um organismo temporário que lhes permite dar um “salto entre as espécies” ( transbordamento ), incluindo a espécie humana.
O problema não se resolve apenas com vacinas, como eu pensava. A vacina pode resolver o covid – 19, mas virão com certeza os covid – 20, 21, 22, 23…
Antes, as pulgas que carregavam as Pestes medievais levavam séculos para percorrer o Mundo, hoje os vírus levam dias, vem de avião.
O recado da Pandemia é direto: sem mudanças no nosso modo vida, as desgraças não faltarão.
Para nos salvar da chegada contínua de outros vírus, não basta descobrir uma vacina válida, nem alguns painéis solares, nem um punhado de carros elétricos ou alguns novos produtos rotulados como ecológicos.
Precisamos de uma drástica redução em nosso consumo individual de bens que já desperdiçaram os recursos da Terra, o que levará milhares de anos para se recuperar. Aqui está o nó, reduzirmos o consumo.
E aqui o bicho pega, essa mudança confronta o capitalismo. Sem querer assustar ninguém, essa mudança significa uma grande revolução cultural e econômica.
* É médico sanitarista e professor da Universidade Federal de Sergipe.