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O alto-falante da discórdia

Por Adiberto de Souza *

Instalada em 1961 pelo então governador gaúcho Leonel Brizola (PTB) para defender a posse do vice João Goulart na Presidência da República, a Rede da Legalidade criou um problemão em Aracaju. Não havia tanta oposição ao fato de o renunciante Jânio Quadros ser substituído pelo político gaúcho. Na verdade, a pendenga ocorreu por causa do alto-falante que o prefeito José Conrado de Araújo (PTB) mandou instalar no prédio da prefeitura visando amplificar os inflamados discursos brizolistas.

Em seu livro História Política de Sergipe, o professor Ariosvaldo Figueiredo conta que os petebistas adoravam as transmissões diárias da Rede da Legalidade. Estas, no entanto, eram muito mal vistas no quartel do 28º Batalhão de Caçadores, particularmente pelo comandante José Lopes Bragança. Linha dura, o coronel subia nos coturnos quando, entre uma fala e outra de Leonel Brizola, o vereador petebista Agonalto Pacheco usava o alto-falante para descer a madeira nos militares.

Invocado, o coronel ordenou que o alto-falante fosse silenciado. Como não foi atendido, ameaçou prender o prefeito. Temendo ver o sol nascer quadrado, o líder petebista requereu e conseguiu um habeas corpus preventivo. De posse do salvo conduto, José Conrado de Araújo mandou uma carta desaforada para o comandante: “O senhor é um arbitrário, seu filho é um tarado e sua filha uma devassa”. De ambos os lados da contenda se esperou uma reação forte do coronel Bragança, porém este se contentou em devolver a correspondência com a seguinte inscrição no envelope: “Volte ao lixo de onde veio”. E Agonalto continuou dizendo o diabo do Exército no barulhento alto-falante da Rede da Legalidade.

* É editor do site Destaquenoticias

 

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