O artista plástico José Fernandes morreu, neste domingo (12), vítima da Covid-19. Com 60 anos, ele estava internado no Hospital de Cirurgia, em Aracaju. Dias antes de ser hospitalizado, o artista reclamava de algumas dores e fraqueza no corpo, mas não sentia necessidade de ir ao médico. Porém, o caso se agravou ao ponto de ele não conseguir se alimentar mais corretamente. Ao chegar na Urgência do Ipesaúde, Zé Fernandes foi diagnosticado com pneumonia e em seguida testou positivo para o coronavírus.
Segundo a família, Zé Fernandes teve uma parada cardíaca no sábado (11), mas os médicos conseguiram reanimá-lo a ponto de a esposa, professora Cyntia Maria Alves, ter informado a um amigo que ele tinha apresentado uma certa melhora. O quadro do artista se agravou no meio da tarde deste domingo (12) ele veio a óbito. O artista estava internado há mais de 50 dias, tendo passado a maior parte do tempo na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital de Cirurgia.
Uma vida dedicada à pintura
Natural de Lagarto, José Fernandes tinha orgulho de dizer que pintou seu primeiro quadro aos nove anos de idade: Um mendigo cansado com o semblante triste. Contava que, satisfeito com o expressivo resultado, decidiu que seria artista. Em 1976, depois de trabalhar por um curto período na Agência Nacional de Notícias, como operador de telex, passou a viver das telas e dos pincéis. Nesse mesmo ano, participou de sua primeira exposição coletiva na Galeria de Arte Álvaro Santos, em Aracaju.
A iconografia de José Fernandes, formada por quadros, murais e painéis, conjuga o real com onírico. Possuidor de estilo próprio, não segue escolas ou regras estéticas. Sua arte dispensa assinatura, pois o seu traço marcante e a sua inconfundível pincelada o denunciam ao primeiro olhar do observador. Sua obra figurativa é fulcrada em temas regionais e norteada por corpos e rostos femininos; feiras e mercados; pescadores e outros personagens do cotidiano; cavalos, peixes, galos e, sobretudo, pombas, uma de suas marcas e que o deixou conhecido como o artista das pombas. Para ele, a ave é “o símbolo universal da paz, do amor, da harmonia e da fraternidade”.
Em 1977, participou da Escolar/97, promovida por Pincéis Tigre, em São Paulo/SP. Em 1978, teve brilhante participação no VII Festival de Arte de São Cristóvão. Depois, foi auxiliar de restauração do Museu de Arte Sacra, através da Universidade Federal de Sergipe. No início da década de 80 morou em Brasília. Em 1982, voltou para Aracaju, mas a sua inquietude aliada ao temperamento forte e à personalidade firme, não o permitiu fixar residência na capital sergipana. Rio de Janeiro, São Paulo, Goiânia, Recife e Salvador, entre outros rincões, são endereços alternativos de suas moradas.
Grandes mestres
Florival Santos, J. Inácio, Jordão de Oliveira e, principalmente, Jenner Augusto são os artistas que mais influenciaram Zé Fernandes, mas ele sempre destacava como de sua preferência pessoal Picasso e o pintor goiano Siron Franco: “ O possuidor de imaginário e linguagem fantásticos”.
As obras de José Fernandes estão presentes em várias coleções particulares, entre elas a da Presidente Dilma Rousseff, Caetano Veloso, Arlete Sales, Cauby Peixoto, Ângela Maria, Tom Cavalcanti, Giliard, Wando e Joana, bem como em museus, a exemplo do MAM, em São Paulo/SP e do MAB, em Brasília/DF. No exterior estão, entre outros países, na Alemanha, no Japão e nos Estados Unidos.
Em 1979, depois de haver realizado a sua primeira exposição individual, na Galeria de Arte Álvaro Santos, em Aracaju/SE, José Fernandes vem participando de inúmeras exposições em várias cidades brasileiras, como em Aracaju/SE, em Salvador/BA, em Brasília/DF; no Rio de Janeiro/RJ; em São Paulo/SP e, em Porto Alegre/RS, esta, em 1991, na Galeria Tina Zapolli, com outros 22 artistas do Brasil, da Argentina e do Uruguai, ocasião em que o jornal Zero Hora de Porto Alegre ressaltou que “A brasilidade, o lado onírico na pintura, aparece no trabalho do sergipano José Fernandes.”
Laureado artista, em 1978 recebeu a Medalha de Prata, no Salão Atalaia, em Aracaju/SE e o Prêmio Medalha de Bronze, no Salão Norcon de Artes Plásticas, com a pintura “Mocidade Perdida”, uma de suas prediletas. Em 1980, foi premiado com a Medalha de Bronze, pela participação no Salão Atalaia, em Aracaju/SE. Em 1981, fundou o Arte Belle, em Brasília/DF, participou do 70º. Salão da Fundação Cultural do Distrito Federal e do XX Salão de Artes Plásticas da Aeronáutica, no Centro de Convenções de Brasília/DF, no qual foi agraciado com o Prêmio de Aquisição, na categoria pintura a óleo.
Movimento das artes
Idealizou, em 1982, com Anselmo Rodrigues e Marinho Neto, o Movimento das Artes, que alavancou o mercado de arte de Sergipe, em Aracaju/SE. Em 1983, foi selecionado para representar Sergipe no Circuito Nordeste de Artes Plásticas. Em 1987, lançou álbum de xilogravuras. Em 1988, é homenageado pela Rede de Televisão Aperipê, de Aracaju/SE, com o documentário “Memória José Fernandes”’.
No exterior, em 1990, participou de exposição coletiva na Dodge House Gallery, em Rhode Island, Estados Unidos da América. Em 1991, venceu o concurso de cartazes das Universidades Brasileiras e fundou a Associação dos Artistas de Sergipe, de onde foi eleito Tesoureiro e depois Presidente. Em 1993, foi premiado no Salão Bradesco, em Aracaju/SE. Em 1995, foi nomeado diretor da Galeria de Arte Álvaro Santos.
Em 2000, idealizou e participou da coordenação do I Encontro Cultural e Esportivo do Conjunto Inácio Barbosa, no bairro Inácio Barbosa, em Aracaju/SE. Participou do catálogo “Rumos, Artes Plásticas Sergipe 2000”, patrocinado pelo Banco do Estado de Sergipe. Em 2011, participou do projeto Caju na Rua e, em 2003, idealizou o projeto Aracaju de Tototó.
Em 2013, foi tema do kit: “Traços de personalidade e cores de sergipanidade”, da Gráfica e Editora J. Andrade. Quatro de suas obras, em 2013, foram reproduzidas em 12.000 latinhas colecionáveis, como brinde da promoção do Dia das Mães do Shopping Jardins, em Aracaju.
Por destaquenoticias, com Informações da PGE/SE
2 Comments
Uma pena para as culturas
sergipana e brasileira. Mais um visionário, um idealista, um poeta das cores, tintas e pincéis que parte para a Terra da homogeneidade e nos deixa ainda mais tristes. Quando morre um artista brota uma roseira no céu do infinito. Que Deus console a nós e a todos os seus familiares.
Luciano Rocha. Poeta, músico e escritor alagoano.
Notícia triste . Aracaju tá de luto. José Fernandes. Um artista bem conceituado pelo seu belo trabalho. Deixa seu legado de sucesso. Ele não morreu. Simplesmente partiu antes de nós. Descanse em paz. A toda familia os nossos sentimentos. E muita força!!