Até o dia 15 de agosto próximo, Empresa de Serviços Gráficos de Sergipe (Segrase), concluirá a edição do Relatório final da Comissão Estadual da Verdade “Paulo Barbosa Araújo”. Segundo o presidente da editora estatal, jornalista Milton Alves, inicialmente o relatório será disponibilizado no e-book, com acesso livre. Não há previsão para a impressão do livro conforme previa o projeto inicial da Segrase. O Relatório deverá ter cerca de 800 a 900 páginas com textos, imagens, tabelas e documentos oficiais, resultado de uma ampla pesquisa.
Milton Alves informou que o e-book trará mais de 30 depoimentos de vítimas e testemunhas da violenta repressão militar ocorrida em Sergipe no período de 1946 a 1988, quando ocorreram flagrantes violações aos Direitos Humanos. Entre os depoentes na Comissão destacam-se o ex-governador Jackson Barreto (MDB) e os ex-presos políticos Marcélio Bomfim, Wellington Mangueira e o petroleiro Milton Coelho, este último cego pelas torturas que sofreu no quartel do Exército, durante a “Operação Cajueiro”.
Criada em 2015 pelo ex-governador Jackson Barreto (MDB), a Comissão Estadual da Verdade homenageia o militante e pesquisador das ações da Ditadura Militar no Estado, jornalista Paulo Barbosa de Araújo. Em fevereiro de 1976, Paulo era correspondente do jornal O Estado de São Paulo. Ele e o jornalista Milton Alves, à época correspondente do Jornal da Bahia, foram os primeiros a divulgarem as prisões efetuadas pela Operação Cajueiro. Barbosa, que também foi preso durante o golpe militar, era formado em Ciências Econômicas, foi professor de Economia da Universidade Federal de Sergipe, editor do extinto jornal aracajuano Gazeta de Sergipe e, além do Estadão, foi correspondente do Jornal do Brasil.
A Operação Cajueiro
A ditadura militar implantada a partir do golpe de março de 1964 atingiu o máximo da brutalidade em Sergipe com a Operação Cajueiro, assim cognominada pelo Exército. No dia 20 de fevereiro de 1976, uma força especial vinda da Bahia prendeu arbitrariamente 25 sergipanos, processando 18 deles. Os torturadores eram oriundos do temível DOI-CODI, do DOPS e da Polícia Federal e agiram em Aracaju sob as ordens do tenente-coronel Oscar Silva.
A acusação, que nem cabia a alguns deles, era de serem ligados ao proscrito Partido Comunista Brasileiro (PCB). A operação realizada a partir de uma tarde de 1976, véspera de Carnaval, obedecia na verdade a uma ordem nacional que era a de acabar com o Partidão, a exemplo das demais siglas clandestinas. O comandante do quartel, o coronel Osman de Melo e Silva, havia sido afastado pelo general Fiúza de Castro, um explícito defensor da tortura, que queria ver seus homens à vontade para “trabalhar”.
Texto: Destaquenoticias, com informações do blog História/UFS