Por Adiberto de Souza *
O ano era 1948 e o Brasil vivia mais uma agitação política. Colocado na clandestinidade em 47, o Partido Comunista Brasileiro (PCB) e a classe operária, revoltada com a intervenção federal nos sindicatos, pediam nas ruas a cabeça de seu algoz, o presidente da República general Eurico Gaspar Dutra (PSD). Muito por causa disso, os comunistas proscritos e as lideranças sindicais, a maioria oriunda das politizadas fábricas de tecidos do bairro Industrial, comeram o pão que o diabo amassou nas mãos da Polícia política.
Junto com a campanha pelo afastamento do presidente, PCB e os sindicalistas empunhavam, com vigor, a bandeira de “o petróleo é nosso”, protestando contra o anteprojeto “Estatuto do Petróleo”. Malandramente, o governo do general Eurico Gaspar Dutra se escudava nessa sua proposta, em tramitação no Congresso, para negar a nacionalização do setor petrolífero, sob o argumento de que o Brasil não possuía verbas e técnicos especializados, em número suficiente, para a extração do petróleo.
Diante da forte repressão policial, só restava aos comunistas e sindicalistas realizarem comícios relâmpagos. Em seu livro “João Ventura, cidadão de Aracaju”, o saudoso músico João Mello conta um hilário episódio ocorrido na esquina da avenida Rio Branco com a rua Laranjeiras, centro da capital. Durante um desses rápidos comícios, com uma diminuta assistência, é chamado para discursar o operário Otávio José dos Santos que, embora analfabeto de pai e mãe, era um ativo membro do PCB. Microfone em punho, Otávio soltou a pérola: “Generá, pelo bem do Brasí, ricoe, ou antonce rinuncei”. E não falou mais nada, porque a Polícia chegou com gosto de gás.
* É editor do Portal Destaquenotícias
1 Comments
Que texto! Queria ter um filho assim…ainda bem que no nosso jornalismo tupinquim temos um Eriberto para fazer a diferença…parabéns colega!