“Um traço de sergipanidade no consumo de cachaça” é o título original do texto abaixo, onde o jornalista Eugênio Nascimento faz um passeio pelos costumes etílicos de Sergipe.
Como há insistentes e bem humoradas publicações sobre traços da sergipanidade, resolvi trabalhar uma vertente ligada ao consumo de cachaças no Estado. Todos sabem que o consumo de cachaças e aguardentes é intenso em todo o Nordeste, mas nós, os sergipanos, temos uma forma de bebê-las um pouco diferenciada. Há produção de cana de açúcar e cachaça no Brasil desde o século XVI.
Beber pinga com limão e caju é uma forma muito difundida entre os nordestinos e até sudestinos. Isso também é feito muito em Sergipe, onde consome-se a bebida com várias outras frutas ácidas, a exemplo do umbu, tamarindo, siriguela, tangerina, cajá, maracujá, mangaba, carambola, umbu cajá, cajarana, abacaxi, manga na fase inicial de amadurecimento, laranja amarga e azedinho.
Também é comum em Sergipe, principalmente no interior do estado, a feitura de garrafadas, que muitos dizem ser salutares e que se fossem médicos recomendariam para os seus pacientes. As mais conhecidas são cachaça com cravo, cascas de laranja, tangerina, canela, murici, cidreira, boldo, zimbro, jenipapo, milone, angico, jurubeba, erva doce e pau ferro, entre outras.
Uma bebida de consumo tradicional no interior de Sergipe e que é usada para comemorar com parentes e amigos o nascimento de um novo membro da família é a “meladinha”. Trata-se de cachaça misturada com arruda, mel de abelha, cebolinha verde um pouco de suco de limão espremido, cravo e canela, que é consumida quatro ou cinco dias após ser preparada..
São também tradições muito presentes em Sergipe beber “pinga” com amendoim cozido ou torrado, castanha de caju, queijo de coalho, requeijão… Mas tem cachaceiro por aqui que bebe a sua dose com um pedaço de kiwi ou morango, coisas novas em Aracaju e usadas para cachaças mais refinadas.
Sergipe, assim como os demais estados do Nordeste, sempre foi um produtor de cachaças. Lembro que nos anos de 1970/80 era comum encontrar nas bodegas de qualquer cidade Murici, Velho Antonio, Vaqueiro Apaixonado, Taquari, Cravo & Canela, Buril e Coquinho, alguma delas hoje fora de circulação no mercado.
Mas, em compensação, chegaram nos últimos anos cachaças como Reserva do Barão, Boa Luz, Engenho de Lyra e Xingó, que têm boa aceitação dentro e fora do Estado. Há ainda, embora poucas, cachaças de fabricação caseira na região de cana de açucar.
O que diferencia uma cachaça de uma aguardente? Na verdade, a cachaça é uma aguardente de cana-de-açúcar produzida no Brasil com graduação alcoólica de 38% a 48%. Um pouco forte, a cachaça é obtida pela destilação do mosto fermentado do caldo de cana-de-açúcar. Se a bebida não se enquadra nessa graduação, dizem sempre os técnicos da área, não pode ser comercializada como cachaça e sim como aguardente de cana.
A marca cachaça é exclusiva do Brasil, onde foi rompido o preconceito de bebida ligada à pobreza, até mesmo por conta do elevado consumo dentro e fora do país. Os turistas estrangeiros gostam da caipirinha, que nada mais é do que uma dose de cachaça (ou aguardente), com limão, açúcar e gelo à gosto.
Produz-se cachaça e aguardente em quase todo o páis. No Nordeste bebe-se boas cachaças e aguardentes, embora as mais famosas sejam hoje aquelas produzidas na região de Salinas, em Minas Gerais, no interior de São Paulo, Rio de Janeiro. Merecem destaque na região aquelas de Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Bahia.
Eugênio Nascimento é jornalista e diretor de Redação do Jornal da Cidade
(Texto publicado originalmente no Blog Primeira Mão)