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E se a Flor de Lis fosse do terreiro?

Por Lelê teles *

se uma mãe de santo fosse acusada de mandante do assassinato do marido, hoje os terreiros estariam sendo atacados com fogo, depredados e destruídos a golpes de pauladas e pedradas.

não, não se trataria de intolerância religiosa, como costumam dizer.

tratar-se-ia de racismo.

e o racismo se estende também à religião dos pretos.

lembremos do caso de uma mãe que perdeu a guarda da filha porque esta foi submetida a um ritual de iniciação e teve a cabeça raspada.

para a justiça, a depilação provocara dor na menina.

intolerância religiosa?

não, de jeito algum. explico-me.

todos nós sabemos que no rito de iniciação judaico, o menino tem o prepúcio cortado, o que provoca dor e sangramento.

no entanto, nenhuma mãe judia perdeu a guarda do pequeno varão por isso.

entende que não tem nada a ver com religião e sim de ódio ao negro e de tudo que dele provem?

em 2015, uma menina de 11 anos levou uma pedrada na cabeça quando saía de um terreiro com a sua vó, ambas vestidas de branco.

seus agressores erguiam uma bíblia e as chamavam de demônios.

a mídia e as redes sociais têm nos mostrado, contidamente, terreiros sendo depredados e destruídos.

se se tratasse de intolerância religiosa, estaríamos a assistir igrejas católicas sendo incendiadas, templos budistas sendo alvos de vandalismo, hare krishnas sendo espancados nas ruas.

ocorre que a única religião a ser atacada sistematicamente é a religião de matriz africana.

logo, não é a religião que atacam, é os pretos, em consequência, a fé dos pretos.

não contentes em desumanizar os negros, agora os monstrificam identificando sua religião com o inferno e satanás.

o diabo é que satanás é um sujeito jovem, em relação à antiguidade dos cultos africanos e é, o Coisa Ruim, uma invenção destas religiões que atacam o candomblé.

chamemos a coisa pelo nome, é racismo.

* Formado pela Universidade de Brasília, Lelê Teles é jornalista, roteirista e publicitário. É roteirista do programa Estação Periferia (TV Brasil) e da série De Quebrada em Quebrada (Prodav 09). Sua novela, Lagoas, foi premiada na Primeira Bienal de Cultura da UNE. Discípulo do Mestre Cafuna, prega o cafunismo, que é um lenitivo para a midiotia e cura para os midiotas.

 

 

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