Nunca em Sergipe tantas mulheres quilombolas disputaram uma eleição quanto agora. São 15 ao todo, representando 10 dos 29 quilombos de Sergipe. Além da campanha presencial nas comunidades, as postulantes à cadeiras em 10 câmaras municipais estão participando de lives organizadas pelo Coletivo das Mulheres. “Quilombola vota em quilombola”, avisa Xifroneze (PSD), do Quilombo Caraíbas, em Canhoba. É em Brejão dos Negros, localizado nos municípios de Brejo Grande e Pacatuba, onde está o maior número de candidatas: Ana Alice (MDB), Maria Soledade (Podemos), Ciana (PSD) e Patrícia (MDB).
As outras candidatas são Gresse (PT) do Quilombo Mocambo, em Aquidabã; Jocilene (DEM), da comunidade Pontal da Barra, na Barra dos Coqueiros; Jozimar (PSC), do Quilombo Lagoa dos Campinhos, em Amparo São Francisco; Kelly (PSB), da comunidade Castanhal, em Siriri; Vanuza (PSOL), do Quilombo Porto da Areia, em Estância; e Josefa (Avante), do Quilombo Sítio Alto, em Simão Dias. O Destaquenoticias não conseguiu os nomes das quatro candidatas da Mussuca, em Laranjeiras.
A participação das quilombolas nas eleições deste ano foi festejada pelo padre Isaias Nascimento, ex-pároco de Brejão dos Negros e um dos lutadores para que aquela comunidade resgatasse sua autoestima: “É motivo de alegria em saber da presença quilombola na política partidária pleiteando algum cargo, tendo em foco o bem comum da comunidade a qual pertence. E, quando se trata das mulheres, e mais um sinal de vitória, visto que antes a política era um espaço mais machista”, frisa o religioso.
Padre Isaias Nascimento, contudo, faz uma advertência: “Ainda sobre a presença quilombola na política: esperamos que nenhuma delas – e dos homens também – esteja sendo instrumento gratuito dos partidos que a nível nacional não defendem a questão quilombola. Seria um suicídio!”, declara.
Condena compra de votos
A candidata Xinfroneze faz discurso contra os candidatos “que só aparecem na comunidade de quatro em quatro anos, quase todos querendo comprar votos”. Preocupada com a melhoria da educação e da geração de empregos, a quilombola tem orientado os eleitores para que “sejam livres, não votem por dinheiro, pois quem compra voto não tem responsabilidade com a população”. Xinfroneze espera ser eleita. “Torço para que os eleitores coloquem uma mulher na Câmara de Vereadores de Canhoba”, afirma esperançosa.
Os projetos de Jocilene para a comunidade Pontal da Barra são outros: ela vai lutar pela construção de um mercado de peixe e mariscos. “Aqui, os homens pescam e as mulheres são marisqueiras. Com um mercado desse, é possível armazenar e beneficiar parte da produção”, ensina. Jocilene revela que ela e a maioria dos vizinhos moravam antes na área chamada de Ilha do Rato: “Quando a maré enchia, invadia todos os barracos”, recorda. Depois, eles ocuparam o Pontal da Barra. “Aceitei o convite do DEM pensando em defender a comunidade na Câmara”, afirma.
Por Destaquenoticias