Por Gilvan Manoel *
A Petrobras desativou o Tecarmo, fechou a sede em Aracaju, está demitindo e/ou transferindo empregados estabelecidos na capital, mas o assunto não está na pauta dos candidatos a prefeito de Aracaju. É como se a estatal fosse apenas mais uma empresa que procura a Junta Comercial para fechar as portas e não agravasse o colapso econômico da população.
A partir da década de 1970, a Petrobras foi responsável por transformar Aracaju no maior PIB per capita do Nordeste. Isso já vinha mudando há alguns anos e a desativação da companhia deverá ter reflexos já nos índices de 2020, que devem ser divulgados no início do próximo ano.
A pobreza do estado tem reflexos claros também na capital. O Anuário Socioeconômico de Sergipe, edição 2019, já mostrava que O IDH praticamente estagnou para o Nordeste e Sergipe, depois decrescer pouco entre 2000 e 2013. O de Sergipe esteve sempre muito próximo ao nordestino e os de ambos sempre abaixo do brasileiro.
Sergipe apresentou em 2017 o quinto pior IDH dentre os estados brasileiros. A melhora do IDH de Sergipe no comparativo entre 2000 e 2017 foi maior apenas do que a do Pará, comparados os estados de pior IDH em 2017.
Com a covid-19 o quadro piorou. Medida pelo Índice de Vulnerabilidade Social (IVS) calculado pelo IPEA, a pobreza em Sergipe também praticamente estagnou ao nível de2013, depois de significativa queda entre2000 e 2011. O desempenho do IVS de Sergipe se assemelha ao nordestino e ao brasileiro, sendo a desse último melhor.
No comparativo entre os estados brasileiros, Sergipe dividiu a sexta colocação com o estado da Bahia de pior Índice de Vulnerabilidade Social em 2017. Dentre esses sete de pior colocação, Sergipe foi o terceiro de pior diminuição do índice desde 2000.
O percentual de pessoas pobres em Sergipe seguiu, em 2018, a trajetória de crescimento iniciada em 2015, depois de uma sequência de queda desde, pelo menos, 2012. Enquanto o percentual de pobres em Sergipe em 2018 aumentou, o do Brasil e Nordeste diminuíram. Esse foi o primeiro ano quando os desempenhos desses percentuais não se acompanharam mutuamente.
Com o crescimento contínuo de seu percentual de pobres, Sergipe ocupou em 2018 sua pior colocação frente aos demais estados brasileiros (6º maior percentual de pobres), sendo um dos três desses seis estados de piores percentuais que cujo percentual aumentou no comparativo entre2018 e 2012.
Sergipe foi o sexto estado com maior percentual de pessoas miseráveis em 2018. Dentre os seis estados com ele comparados, Sergipe foi o terceiro a a presentar maior crescimento daquele percentual.
Assim como o apresentado no percentual de pobreza, o de miséria, em 2018 cresceu em Sergipe, na contramão da queda apresentada no Nordeste. O percentual de miséria em Sergipe tende a superar o do Nordeste, depois de ter evoluído sempre abaixo deste até 2015.
Também de evolução semelhante à do Brasil e do Nordeste, a parcela de famílias pobres depois de estável entre 2012 e2015, caiu seguidamente em 2016, tendo aumentado em 2019. A proporção entre as taxas apresentadas por Sergipe, Brasil e Nordeste se manteve, com Sergipe sempre em segundo lugar.
Sergipe foi o estado mais desigual do país em 2018. Dentre os estados mais desiguais, seu índice de Gini foi um dos que se manteve mais constante no comparativo entre os anos de 2018 e2012. A desigualdade oscilou nos últimos anos com tendência a aumento, depois de duas quedas seguidas em 2014 e 2015.
A pandemia da covid-19, ainda em curso, deve ter agravado ainda mais os indicadores sociais do estado, que já vinha de uma grave crise econômica. Os municípios, inclusive Aracaju, não dispõem dos recursos necessários para um enfrentamento direto contra a pobreza, mesmo com o suporte garantido neste momento pelo governo federal para ajudar a recompor a arrecadação perdida pela emergência, que provocou o fechamento da economia.
Essa crise terá reflexos diretos nas novas administrações municipais, a serem eleitas em 15 de novembro, com posse em 1º de janeiro de 2021.Os candidatos não querem saber como será a vida das pessoas no pós-pandemia e muito menos os reflexos provocados pela saída da Petrobras, tanto na arrecadação do município quanto em relação ao desemprego e ao empobrecimento da população.
* Gilvan Manoel é editor do Jornal do Dia