A vereadora eleita Linda Brasil (PSOL), a mais votada de Aracaju, foi ao Departamento de Atendimento a Grupos Vulneráveis (DAGV) denunciar que está sendo ameaçada. “São ataques à minha integridade moral, deslegitimando a minha condição de mulher e me chamando de demônio”, conta Linda, a primeira mulher trans a ocupar uma cadeira na Câmara Municipal. Segundo ela contou à Polícia, “as ameaças contribuem para a violência contra toda a população LGBTQ+, principalmente das mulheres trans e travestis, que já são tão marginalizadas nessa sociedade”, afirma.
Linda Brasil revela que a intenção não era prestar queixa contra as ameaças: “Eu não queria estragar esse momento tão importante para a política de Sergipe. Um fato histórico que teve uma visibilidade, mas também trouxe esses comentários, essa perseguição transfóbica” frisa. A vereadora eleita afirmou ter resolvido procurar a Polícia porque “as ameaças são perigosas não apenas pra mim, mas para toda a comunidade. Isso pode provocar comportamento de fanáticos, de quem não aceita pessoas como eu ocupando esses espaços na sociedade”, pontua.
Não vai recuar
A vereadora não esconde o receio sobre possíveis riscos à sua integridade física, mas disse que não pretende se calar diante das ameaças. “É muito grave, mas não vamos silenciar. Não vou retroceder, para que as pessoas não se sintam legitimadas a fazer esse discurso ou atentar contra a minha vida”.
Após ouvir a denúncia de Linda Brasil, a delegada da DAGV, Meire Mansuet, informou que vai iniciar as investigações para apurar a autoria dos crimes de racismo transfóbico. “São mensagens discriminatórias, extremamente agressivas. Um discurso de ódio, que realmente precisa ter uma apuração bem minuciosa visando identificar os autores e denunciá-los à Justiça para que sejam punidos exemplarmente”, revelou. A policial confirmou que os indícios de crime de racismo transfóbico estão materializados.
Mestra em Educação
Linda Brasil (Psol) foi eleita a primeira vereadora trans de Aracaju. Com 5.754 votos ela foi a candidata mais votada da cidade, mais de 600 votos de distância do segundo colocado. Em suas redes sociais, a futura vereadora se comprometeu com propostas que envolvem o fortalecimento de políticas municipais para mulheres, o fundo municipal de políticas para mulheres, o combate à violência contra a mulher, ações educativas e de saúde e a proteção aos patrimônios culturais materiais e imateriais do município.
Linda Brasil é graduada em Letras Português-Francês e mestra em Educação pela Universidade Federal de Sergipe (UFS). A plataforma como candidata incluía o combate aos privilégios, ao racismo, à lgbtfobia e ao machismo. Nas redes sociais, ela destaca sua luta pelo uso do nome social dentro da UFS, que resultou em uma “vitória para toda a população trans que consegue acessar a universidade”.
Fotos: Ascom e portal Brasil de Fato