Rosalvo Ferreira Santos
Ex-pró-reitor de Planejamento da UFS
A Universidade Federal de Sergipe corre um sério risco de descontinuidade dos processos administrativos e acadêmicos em face da mudança brusca, intempestiva, inoportuna e casuística de pró-reitores e diretores acadêmicos. A universidade é um complexo orgânico, marcada pela indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. A legitimidade da gestão superior é essencial para garantir o funcionamento pleno dos departamentos acadêmicos e de toda infraestrutura de apoio nos seis campi da UFS.
Considerando o momento grave da pandemia e o início das atividades de ensino remotas, a destituição da estrutura acadêmico-administrativa das Pró-reitorias de Planejamento, Graduação, Assuntos Estudantis, dos diretores dos Campi de Lagarto e de Glória, da Superintendência de Tecnologia da Informação (STI), do Centro de Educação a Distância (CESAD), além de causar prejuízos seríssimos à comunidade docente e estudantil, mostra as claras intenções da intervenção na UFS: arregimentar novos conselheiros para compor os Conselho Universitário (CONSU) e Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CONEPE), desde que estejam alinhados com os propósitos da intervenção que se instalou na UFS em 23 de novembro do ano corrente.
Os Conselhos Superiores não podem se calar e se curvar diante dessas manipulações!
A descontinuidade de ações de planejamento que estavam em desenvolvimento no tocante à gestão dos créditos orçamentários e da política de assistência estudantil, sob responsabilidade dos pró-reitores de Planejamento e de Assuntos Estudantis, pode colocar em risco o atendimento aos alunos em situação de vulnerabilidade socioeconômica, inviabilizando, inclusive, projetos importantes de suporte para o desenvolvimento das atividades remotas, bem como o cumprimento de metas com o uso adequado dos recursos do PNAES. A devolução de créditos em qualquer área é algo inadmissível, mais ainda na assistência estudantil.
A inexperiência e a forma fora de contexto da intervenção podem significar perdas irreparáveis para todos os segmentos da Universidade, dada a paralisia de ações no sentido da efetivação do que foi planejado pela gestão do professor Angelo Antoniolli. Os ganhos obtidos em 2020 e a trajetória de crescimento da UFS para 2021 correm sério risco de serem anulados pela inépcia e pela falta de coordenação (governança) da atual interventora.
A conclusão da obra do Materno Infantil no Hospital Universitário de Aracaju, prevista para este mês de dezembro, é fruto do trabalho incansável de setores da PROPLAN, PROAD e Diretoria de Obras e Fiscalização (DOFIS). Esta é uma realização da gestão do prof. Angelo Antoniolli que não mediu esforços para conseguir recursos extra orçamentários junto ao MEC, com apoio decisivo da bancada federal sergipana, sem o qual a Universidade Federal de Sergipe certamente não teria alcançado o padrão de excelência que desfruta hoje.
O Campus do Sertão, projeto de transformação da realidade social e produtiva de dezenas de municípios que formam a bacia leiteira sergipana, é fruto também do empenho da bancada federal. A substituição dos diretores Jodnes Sobreira e Marcelo Carnelossi, do Campus do Sertão, significa interromper todo o planejamento previsto para licitação de obras e demais projetos voltados para o povo sertanejo.
Da mesma forma, a substituição intempestiva dos diretores Administrativo e Pedagógico do Campus de Lagarto, apenas para acomodação de interesses não republicanos, pode inviabilizar a continuidade e conclusão de projetos de grande relevância para a comunidade acadêmica e para a população do centro-sul do Estado. O Centro de Qualidade de Vida (CRQV), destinado a serviços de saúde em fonoaudiologia e fisioterapia, em Simão Dias, fruto de emendas de dois parlamentares federais, deverá ser entregue à comunidade acadêmica ainda este ano, mas necessita de planejamento para seu efetivo funcionamento, abrangendo formação acadêmica e serviços à comunidade por parte do Hospital Universitário de Lagarto.
Por meio do trabalho realizado pela PROPLAN, com apoio da DOFIS, foi possível obter junto ao MEC a liberação de créditos orçamentários específicos (dentre algumas poucas universidades) no montante de R$ 4.000.000,00 (quatro milhões de reais) para conclusão do prédio dos Departamentos de Engenharia Florestal e Engenharia Agronômica, última obra do REUNI. O processo de licitação para a contratação da empresa executora foi concluído na última semana e será possível realizar o empenho e a assinatura do contrato. Espera-se que a Direção do Centro de Ciências Agrárias e dos departamentos e cursos envolvidos defendam com tenacidade a continuidade da obra, uma vez que os recursos necessários para sua conclusão vão depender das ações planejadas ainda este ano e no início do próximo. Trata-se da coroação de um trabalho de equipe para o bem de toda a UFS.
É preciso que a comunidade universitária e população sergipana tenham conhecimento dessas conquistas e possam defender com todas as forças o seu maior patrimônio que é a nossa Universidade Federal de Sergipe. O casuísmo e o oportunismo não podem vencer o trabalho honesto e a transparência das ações, pautadas nos princípios da impessoalidade e do interesse público, de forma laica e republicana. O que está em jogo é o futuro da nossa UFS, precisamos urgentemente restabelecer a ordem institucional, mediante a nomeação do Reitor eleito no Colégio Eleitoral em 15 de julho de 2020, em conformidade e respeito à lista tríplice encaminhada ao Ministério da Educação. Que seja cumprido o disposto no artigo 207 da Constituição Federal: a autonomia universitária é mais que sagrada!
2 Comments
Inaceitável essas mudanças intempestivas . Tal atitude quem Sai perdendo é o povo sergipano.. Respeito ao processo democrático é uma condição inadiável. Pela autonomia das Universidades Públicas é gratuita.
Muito triste isso tudo… Colocar um interventor é o mesmo que paralisar todas ações de crescimento dessa Universidade. Infelizmente, talvez se algo não for feito a UFS poderá deixar de existir. Triste fim desse patrimônio tão significativo para os nossos jovens.