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Linda Brasil: “Estou vivendo um sonho coletivo”

Linda Brasil diz que documento respalda a sua atuação na Câmara

Primeira mulher trans eleita para a Câmara de Vereadores de Aracaju, a educadora e ativista LGBT+ Linda Brasil também foi a mais votada do último pleito da capital (5.773 votos), fato que lhe garantiu o direito de presidir a primeira sessão plenária do Legislativo: “Foi uma experiência incrível. Me emocionei em diversos momentos da sessão”, conta. Nesta entrevista, Linda fala sobre suas expectativas como parlamentar, cita alguns problemas comuns aos aracajuanos que ela projeta enfrentar e diz que, apesar das divergências políticas, pretende manter com os colegas vereadores um diálogo respeitoso e democrático.

Destaquenotícias – Como foi presidir a sessão inaugural da Câmara de Aracaju?

Linda Brasil – Foi uma experiência incrível. Me emocionei em diversos momentos da sessão, me senti nervosa, mas respirei fundo e consegui. Exatamente como tenho feito durante toda a minha vida. Desde o dia 15 de novembro, quando fui eleita a mais votada de Aracaju, sinto que estou vivendo um sonho, mas que não é individual, é coletivo. Como disse no discurso na cerimônia de posse, nós mulheres trans temos uma expectativa de vida que é de 35 anos, eu tenho 47. Sou uma sobrevivente. Talvez tenha vivido para esse momento.

DN -Qual foi a receptividade do plenário, majoritariamente masculino?

LB – O plenário foi respeitoso, exatamente como espero que seja a nossa convivência dentro da Câmara. Tenho muitas divergências políticas com meus colegas vereadores, mas quero o diálogo respeitoso e democrático com todos.

DN – Por que você votou contra a chapa eleita para comandar a Mesa Diretora?

Linda Brasil exibindo o termo de posse como vereadora de Aracaju

LB – Na verdade, eu me abstive. Acho que a formação da Mesa Diretora merece diversas reflexões como, por exemplo, a autonomia do Legislativo em relação ao Executivo, a democracia na condução do trabalho Legislativo, a diversidade e representatividade e a do programa político. Nesse sentido, a chapa que se apresentou não contempla o projeto que represento. Ainda assim, desejo aos meus colegas uma boa condução do processo, trabalharemos juntos para que seja a melhor possível.

DN – O vereador Nitinho Vitale lhe pediu apoio, procurou para falar sobre composição de chapa?

LB – O vereador Nitinho tem sido respeitoso e atencioso comigo, especialmente no acompanhamento dos casos de ódio e violência que sofri logo após a minha eleição. Nós conversamos sobre a eleição da Mesa Diretora e na oportunidade expliquei para ele como construímos junto com a direção do PSOL a posição de abstenção e ele entendeu. Acho até que ele já esperava.

DN – Em que pé está o inquérito na Polícia para apurar os ataques homofóbicos contra você?

LB – Está na fase de investigação. Os autores dos casos de transfobia contra mim já foram identificados. Nossa assessoria jurídica está acompanhando. O importante é que todos saibam que não aceitarei calada nenhuma violência. Todos serão denunciados e responsabilizados.

DN – Como você pretende votar nos projetos da Prefeitura?

LB – Atuarei na Câmara como oposição de esquerda, a autonomia e a independência ao Executivo serão uma marca da minha mandata. Mas isso não me impedirá de votar em projetos do Executivo quando eles representarem o interesse da maioria da população. Só não esperem de mim votar a favor de nenhuma retirada de direitos dos e das trabalhadoras.

DN – Qual a sua visão sobre Aracaju?

LB – Aracaju é uma cidade linda, potente, acolhedora, que me abençoou e me tornou a vereadora mais votada dessa eleição. Mas também é uma cidade marcada pela desigualdade social, e isso não é discurso, basta ir nos bairro Treze de Julho e Japãozinho. A diferença é gritante! Eu quero e vou trabalhar para acabar com todas essas desigualdades e injustiças sociais.

DN – Cite alguns dos problemas agudos da cidade?

LB – A população sofre com desemprego, falta de moradia, saneamento básico, preço alto da passagem do transporte coletivo, violência. Atualmente, com as incertezas que a pandemia trouxe, precisamos urgentemente de um plano de vacinação da população. Também temos uma cidade com arborização muito abaixo do indicado pela ONU. Enfim, temos muito trabalho pela frente para melhorar a vida dos e das aracajuanas.

DN – Como você está acompanhando esse ataque cerrado contra o professor Paulo Freire?

LB – Não é à toa que Paulo Freire é o patrono da Educação, que tem sua obra reconhecida pelo mundo inteiro. Ele é a referência de como na prática e na teoria a Educação pode transformar realidades. Esses ataques são expressão do obscurantismo que tenta tomar conta do país desde 2018. Mas estamos vencendo. O amor está vencendo.

DN – Como deve ser a sua relação com as minorias de Aracaju?

LB – A minha trajetória política foi construída em defesa dos Direitos Humanos e continuarei nesse mesmo caminho. Aonde tiver uma violação de direito eu estarei para exigir que todas as pessoas sejam respeitadas e seus direitos garantidos. É por isso que tem se formado uma mobilização de entidades e organizações sociais para que eu ocupe a presidência da Comissão de Saúde, Direitos Humanos, Assistência Social e Defesa do Consumidor. Nesse sentido, também tenho dialogado com os meus colegas vereadores e vereadoras para que a Câmara garanta a representatividade que a comissão exige e a minha votação expressa.

Fotos: Marcelle Cristinne

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