Por Gilvan Manuel *
O conselheiro do Tribunal de Contas Ulices Andrade continua trabalhando para sair candidato do bloco governista à sucessão de Belivaldo Chagas em 2022. Não quer rupturas, mas entende que é o momento adequado para isso. E tem o apoio de seus pares no TCE.
Ulices transita facilmente em todos os setores, usa a gentileza como arma política e transformou o seu gabinete no TCE em uma sala de orientação. Ao invés de sair condenando gestores e ex-gestores por irregularidades na aplicação de recursos públicos, faz um trabalho educativo quando sua equipe constata que não houve dolo.
Deputado estadual por cinco legislaturas seguidas, de 1991 a 2010, Ulices transitou com destaque nos governos João Alves Filho e Albano Franco e chegou ao auge da carreira política em 2007, quando foi escolhido presidente da Assembleia Legislativa com o apoio do governador Marcelo Déda. Reeleito no comando do legislativo, chegou a assumir o cargo de governador do Estado entre os dias 9 e 16 de janeiro de 2009. Foi empossado conselheiro do TCE/SE no dia 14 de outubro de 2010. A amigos, Ulices costuma dizer que, politicamente, Déda agiu com ele como se fosse ‘uma mãe’.
Ulices consegue manter a sua influência política além do Tribunal de Contas. O seu filho Jeferson é deputado estadual, reeleito sempre com boa votação e se repete como primeiro secretário da Assembleia nos três mandatos seguidos – o primeiro secretário é responsável pela administração da casa e, depois da presidência, é o cargo mais disputado entre os deputados. E é responsável pela eleição de muitos prefeitos em municípios do baixo São Francisco e do sertão
Experiente, o conselheiro não entra em bola dividida. Em 1999 decidiu disputar a presidência da Assembleia contra Reinaldo Moura, o candidato do então governador Albano Franco, mas o que poderia ser considerado um erro político, acabou aumentando a sua força. Passado o episódio, se transformou em líder do governo e não parou mais de crescer politicamente.
Acompanha com discrição o trabalho do deputado federal Fábio Mitidieri (PSD), que articula para ser o candidato do bloco governista à sucessão de Belivaldo, diz publicamente que não tem a pretensão de ser candidato, mas age como se fosse. É hoje referência para políticos e administradores, a exemplo do prefeito de Aracaju, Edvaldo Nogueira (PDT), também citado como virtual candidato ao governo em 2022.
Em 2019, quando presidia uma sessão do plenário do TCE transmitida ao vivo por um canal do Youtube, Ulices participou com entusiasmo de um debate aberto pelo conselheiro Carlos Pinna, preocupado com a aposentadoria futura do conselheiro Carlos Alberto Sobral de Sousa, prestes a cair na compulsória:
Pinna – …É preciso seguir o padrão do STF. Nós fomos mais rigorosos e exigimos três anos. Não há nenhuma perspectiva de alguém vir a exercer esse direito (advogar), até porque nós sabemos que o Dr. Carlos Alberto que é o mais próximo a se aposentar…
Ulices Andrade, interferindo – …Dr. Carlos Alberto é um grande advogado, mas não vai precisar advogar, com a poupança que tem…
Carlos Alberto, em meio a risos dos colegas – Gostaria que o senhor passasse a poupança que tem para mim, que é mais forte…
Pinna – E ele, de qualquer sorte, vai uma ter uma boa posição no futuro governo que nós já estamos trabalhando e já sabemos que ele dará uma grande contribuição ao futuro governo. (Os conselheiros estão na certeza de que dará certo um plano, muito comentado nos bastidores do órgão, onde Ulices seria governador em 2022 e Carlos Alberto, já aposentado, ocuparia um cargo importante no governo).
Como conselheiro do TCE, Ulices tem uma vantagem a mais em relação aos demais pretendente ao cargo de governador: só precisaria deixar o posto para disputar as eleições no mês de agosto, enquanto administradores, como o próprio Edvaldo Nogueira, teriam que se desincompatibilizar no início de abril.
Em caso de divisão, tem tempo suficiente para se transformar em nome de consenso.
* É editor do Jornal do Dia
(Texto publicado Originalmente no Jornal do Dia)