Polícia acaba duas festas na Grande Aracaju
15 de março de 2021
Juros anuais do cartão de crédito chegam a até 875 por cento
15 de março de 2021
Exibir tudo

As mangas e as mangabas do Aracaju

Por Antônio Samarone *

O que resta das restingas do Aracaju (Zona de Expansão), está com os dias contados. Vai virar bairros. Perderemos a melhor manga espada do mundo.

Eu sei, é uma planta exótica, indiana, que só chegou ao Brasil no século XVIII. Nativo, nativo mesmo, só o caju e a mangaba. Ignoro os motivos, mas brotou por aqui uma variedade de manga, miúda, frágil, saborosa, que apelidamos de manga espada.

Se chupa fazendo um furinho e apertando, para sugar o mel da polpa. Depois, tira-se a casca, e coloca-se o caroço inteiro na boca, até raspar.

Exato, o tradicional quadro do “cão chupando manga”.

Existe umas mangonas bonitas, enormes, sem “frepas”, vendidas em supermercados. Manga tipo exportação. Não gosto! Nada se compara com a manga espada do litoral sergipano.

Como diz Valença, da manga rosa eu quero o cheiro, para chupar a espada é imbatível. O paladar é apreendido: a gente gosta mais do que comeu na infância.

Tem uma ilha em São Cristóvão que só tem mangueiras. No tempo da safra, bota tanto que faz lama. O chão fica forrado.

Como se sabe, quase tudo veio de fora, trazido pelos portugueses: jaqueiras, bananeiras, coqueiros, laranjeiras e limoeiros. Nativas, só caju, mangaba e abacaxi. E as frutas mais rústicas: ingá, umbu, pitomba, juá, cajá, murici, quixaba, cajarana, seriguela e a famosa jabuticaba (que só tem no Brasil).

O que resta das matas de restinga do Aracaju, das dunas e lagoas, dos gragerus e cambuís, é a faixa de terra entre o Robalo e o Mosqueiro, às margens do Canal de Santa Maria, afluente do Rio Vaza Barris.

Ontem fiz um passeio de final de tarde pelo Robalo. Está bonito e bem cuidado. Bateu uma saudade imensa da infância: encontrei crianças brincando nos quintais e uma turma batendo pelada num campo de areia.

Se eu fosse mais novo, tinha parado e pedido uma vaga na pelada. Isso vai acabar em breve em Aracaju. Não adianta fazer campinho em condomínios, ninguém vai, é frio, não dar liga.

E só existe, por conta dos limites de ocupação impostos pela Justiça, devido aquela enchente que alagou tudo, que eu já esqueci o ano.

As restingas do Aracaju estão com os dias contados. A especulação imobiliária botou o olho e Poder Municipal (por razões conhecidas) atendeu. As restingas vão virar bairros, prédios e condomínios murados.

“Não planto capim guiné, prá boi abanar rabo, eu tô virado no diabo, eu tô retado com você. Tá vendo tudo e fica aí parado, com cara de veado que viu caxinguelê.” – Raul Seixas.

Como resistência, vou plantar um pé de manga espada, nativa, da miúda, em meu quintal.

* É médico Sanitarista e professor da Universidade Federal de Sergipe.

Compartilhe:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *