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Máscaras & máscaras

Por Manoel Moacir Costa Macêdo *

As máscaras são comuns na história da humanidade. Elas estão presentes na pele e no caráter dos humanos. Elas vem de longe. Ao longo da existência, desempenham múltiplas funções: defesa, proteção, conspiração, ataques e camuflagens. No Oriente, desde os anos 535 a.C. as máscaras foram usadas no Antigo Egito. Múmias de faraós foram enterradas com máscaras como ostentação de riqueza, poder e eternidade. Na China, as máscaras eram usadas para afastar os maus espíritos. No Japão, as máscaras continuam no palco e na rotina de seus personagens. Elas acompanham a história dos povos.

No Ocidente, as máscaras foram usadas na Grécia Antiga, nas festividades anuais do deus do vinho e da fertilidade. Os gregos acreditavam que as máscaras, atraíam o divino durante a festa. Nos povos originários da África, América e Oceano Pacífico, as máscaras eram usadas em cerimônias religiosas, ritos e celebrações. Eram produzidas de materiais naturais como madeira, fibras, palhas, barro, chifres, conchas, plumas, peles de animais, pedras, tecido ou espiga de milho, entre outros. Em algumas tribos indígenas, cabia aos índios idosos usar as máscaras durante rituais para curar doentes, espantar os maus espíritos e celebrar casamentos. O uso de máscaras ultrapassou o tempo, crenças, mitos, geografia, estratégias e tradições para aportar na contemporaneidade. Elas ocupam expressões na ciência, nas artes e no cotidiano, a exemplo do teatro, da música, da dança, do carnaval e da medicina. As máscaras não são neutras, nem mudas, nem surdas e nem cegas. Elas comunicam em codificadas e sutis expressões e linguagens.

Transbordando sentimentos humanistas, o menestrel de Central no sertão baiano, Ismar Maciel na canção “Máscaras”, canta em poesia e melodia de rara beleza: “pela cravada no peito, pelo sangue tirado, pela língua ferina, pelas mãos que violentam e apedrejam, pela vida metida na lama, pela miséria escondida na humanidade perdida [tudo isso] por trás das máscaras”. O afamado artista brasileiro, Ney Matogrosso, notabilizado pela maquiagem cênica, vestuário exótico, voz afinada e afeminada, escondia nas máscaras, a insegurança revolucionária de sua arte, na unidade do canto com o corpo. No carnaval, a festa popular de maior grandeza no Brasil, as máscaras estão coladas nas danças, alegrias, bebedeiras, maquiagens, cantos, coreografias e vestes dos foliões. Elas expõem sentidos guardados ou reprimidos numa diversidade tangível e intangível.

Na pandemia da Covid-19, as máscaras assumem o papel prescrito pela ciência, como terapia de proteção à contaminação do coronavirus entre os humanos. Em alguns casos, ultrapassou a linha da sanidade e foi adotada como adornos, em diferentes modelos, cores, formas e usos. Usadas sem a devida orientação, no pescoço, na orelha, na testa e nas mãos. Máscaras usadas com arte, humor, propaganda, protesto, erotismo, afeto e identidade. Elas mascaram o conflito entre o “meu eu e o desejo do outro”

No mundo virtual da internet, identificado pelos cientistas sociais como da “modernidade líquida, da pós-modernidade e do cotidiano”, as máscaras se desnudam de suas tradicionais formas. Elas são substituídas por novas e inusitadas expressões. Elas rompem a lógica em uso e assumem identidades tecnológicas. As relações pessoais nas telas das máquinas, dispensam as antigas máscaras e destroem emoções, sensibilidades e reflexões. Máscaras sem vida e destituídas de faces humanas, identificadas como algoritmos, fake news e torpedos, entre outros meios mascarados. A palavra perde sentido, na saturação do racionalismo e da autonomia.

As máscaras na virtualidade, destroem a beleza, o humano, o natural e a verdade. Nascem marcadas pelo pecado original da dúvida entre o real e o virtual. Carregam a destruição do cotidiano, do simples e do autóctone. As máscaras estão capturadas por estruturas colonizadoras na rota do centro para a periferia. Mundo líquido e pós-moderno que enterra a liberdade humana no terreno minado entre o “off line and on line”. Um viver mascarado no “libido narcisista”.

* É engenheiro agrônomo e advogado

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