Por Antônio Samarone *
Na entrada do “Whiskynão”, encontrei um velho amigo, ex-Vereador do Aracaju, e tivemos a mesma reação de alegria: até agora, escapamos! O nosso medo disfarçado da morte foi explicitado às gargalhadas.
A razão deseja a imortalidade.
Trezentos e setenta mil óbitos chocam menos que a morte trágica de um amigo. Na verdade, o inaceitável é a própria morte. O nosso ressentimento contra a finitude está enraizado no inconsciente.
“A morte propriamente dita é a própria morte.” – Heidegger
Somos a única espécie que sabe previamente que vai morrer. Os outros animais só descobrem no corredor da morte, nos instantes finais.
O instinto de sobrevivência é inato, a morte é aprendida. Logo cedo aprendemos que somos mortais, por “ouvi dizer”. Essa certeza incômoda é aprendida e precisa ser afastada da nossa mente. No fundo, desconfiamos desse destino e temos a ilusão que escaparemos.
É trabalhosa a aceitação da verdade bíblica: “Pulvis es et in pulverem reverteris”.
Na evolução, quando o “Homo” descobriu que era mortal, inventou as religiões e passou a enterrar os mortos. Somos “seres humanos” porque enterramos os mortos. Enterrar é “Inhumar”, o inverso de “exhumar”.
O meu pai só aceitou a morte, já bem velhinho. Certo dia, me chamou num canto e revelou: “meu filho, acho que não vai ter jeito, vou morrer.” Eu perguntei curioso: como o senhor descobriu? Ele foi sucinto: “todos os meus amigos já se foram…”
Após o último suspiro, fecham-se os olhos dos defuntos, para evitar a grande inveja dos mortos pelos vivos.
A única prova de que vamos morrer é a morte dos outros. Se até agora ninguém escapou, eu não serei o primeiro. É um raciocínio lógico.
* É médico Sanitarista e professor da Universidade Federal de Sergipe.