Por Gilvan Manoel *
No último dia cinco de março, quando o estado de Sergipe ultrapassou a marca de 3 mil mortos pela covid-19, o governador Belivaldo Chagas baixou decreto com medidas de restrição para tentar reduzir as aglomerações de pessoas. O decreto determinou o fechamento das atividades consideradas não-essenciais, incluindo shoppings, bares e restaurantes, no período entre 22h e 5h do dia seguinte, durante os dias úteis. Já aos finais de semana, a proibição para funcionar começava às 18h de sexta-feira e só terminava às 5h da segunda-feira seguinte.
De outubro de 2020, quando o estado atingiu a marca de 2 mil mortes, a março de 2021 – 3 mil mortos – se passaram cinco meses. No dia 20 de abril, Sergipe alcançou a triste marca de 4 mil mortos pela covid. Foram 1 mil novas mortes num período de apenas 45 dias.
O governador, no entanto, fez foi afrouxar as medidas restritivas – o toque de recolher nos finais de semana é das 22 horas às 5 horas. Belivaldo justificou: “Diante do atual cenário epidemiológico da covid-19 em Sergipe, em que alcançamos uma estabilidade de casos e óbitos, mas ainda num patamar elevado, o Comitê Técnico Científico e de Atividades Especiais (CTCAE) decidiu por prorrogar as medidas restritivas em vigor até o próximo dia 28 de abril. Desta forma, está mantido o toque de recolher das 22h às 5h do dia subsequente em todo o estado, e as restrições maiores aos finais de semana, de modo a evitar as aglomerações que são mais comuns nestes períodos”.
Sergipe exibe uma elevada taxa de mortes por milhão (dados de 21/04): Brasil – 1.788; Sergipe – 1.725; Alagoas – 1.199; Bahia – 1.173. O número de casos e óbitos em Sergipe superam em muito os registrados em Alagoas, estado com 1 milhão de habitantes a mais. Na quinta-feira (22), Sergipe registrava 194.312 casos e 4.061 mortos por covid-19, contra 168.747 casos e 4.054 óbitos no estado vizinho.
A diferença entre Sergipe e Alagoas é que o governador Renan Filho adota rigoroso lockdown sempre que os casos avançam em seu estado, enquanto o governador de Sergipe teme contrariar aliados do setor empresarial e estabelece lockdown de fim de semana, um engodo, segundo especialistas, a exemplo do neurocientista e pesquisador brasileiro Miguel Nicolelis, que deixou a coordenação técnica do Consórcio Nordeste porque alguns governadores não seguiam as orientações científicas.
Sergipe também continua apresentando perigosas taxas de ocupação de leitos de UTI. No boletim do dia 22, a Secretaria de Estado da Saúde informa que 96,9% dos leitos públicos exclusivos par a covid para adultos estão ocupados, enquanto na rede privada esse número chega a 102,7%.
O governo de Sergipe parece ter jogado a toalha na luta contra a covid-19 e fica apenas aguardando o envio de doses de vacinas pelo omisso governo Bolsonaro.
* É editor do Jornal do Dia (Artigo publicado originalmente no Jornal do Dia)