Por Gilvan Manoel *
A perspectiva de uma candidatura do senador Rogério Carvalho (PT) ao governo do estado em 2022, independente do aval do governador Belivaldo Chagas (PSD), antecipou as negociações entre líderes dos setores mais conservadores para um novo ‘acordão’, tão tradicional na política sergipana. Desta vez os excluídos seriam o PT, por razões óbvias, o Cidadania do senador Alessandro Vieira e o PSB dos Valadares, pela inimizade com o governador.
O deputado federal Fábio Mitidieri (PSD), que pleiteia a indicação ao governo pelo bloco governista, tem circulado muito e ampliado o leque possível de alianças para 2022. No início da semana, acompanhado do ex-deputado federal André Moura (PSC), fez uma visita a senadora Maria do Carmo Alves(DEM), em Brasília. Oficialmente, a conversa girou em torno do ex-governador João Alves Filho, morto recentemente, e de políticas públicas da vacinação no combate a covid-19 e a situação econômica de Sergipe no pós-pandemia, mas a pauta real foi a possibilidade de alianças em 2022.
Sem quadros, com problemas de saúde e beirando os 80 anos, Maria tenta evitar que o legado de João seja esquecido nas próximas eleições. Já convidou André para ser o seu candidato a senador e tenta abrir e espaço para garantir a eleição da filha Ana Alves para a Assembleia Legislativa – em 2020, Ana obteve 832 votos como candidata a vereadora em Aracaju. A aproximação com o governo poderia ser favorável ao seu projeto.
Mitidieri não está sozinho na pretensão de disputar o governo pela situação. O conselheiro do TCE Ulices Andrade é um nome forte, o deputado federal Laércio Oliveira (PP) tem o mesmo objetivo, além do prefeito de Aracaju, Edvaldo Nogueira (PDT), reeleito no ano passado. Ulices não fala sobre eleição para evitar incompatibilidade com o cargo que ocupa e Edvaldo diz que com a pandemia de covid-19 não tem tempo para tratar de política.
Os aliados falam que no próximo mês de outubro, o governador Belivaldo Chagas deverá começar a discutir o nome mais apropriado para a sua sucessão. Se isso acontecer, será um risco para o próprio governador: quanto mais cedo começa a discussão sobre candidaturas, mais cedo o governo fica esvaziado. Uma coisa é os pretendentes deixarem claro seus objetivos, outra o governador comandar essa discussão com tanta antecedência.
Esse prazo tão elástico criaria mais dificuldades para Ulices e Edvaldo. Como prefeito, Edvaldo só precisaria se desincompatibilizar do cargo seis meses antes das eleições e como conselheiro do TCE, Ulices poderia continuar no cargo até três meses antes do pleito. Só que as candidaturas nascem com grande antecedência e, no caso de Ulices, ainda precisaria haver uma negociação para saber quem seria o novo conselheiro.
Em 2004, quando Marcelo Déda foi reeleito prefeito de Aracaju, todo mundo já sabia que ele renunciaria em abril de 2006 para disputar o governo do estado contra o então governador João Alves Filho. Hoje não há um candidato natural.
Também não há nomes novos e dificilmente irá aparecer algum nesse período pré-eleitoral. A novidade de 2018, que permitiu a eleição de Alessandro Vieira para o Senado, embalado na campanha policialesca e de fake-news do presidente Bolsonaro, não deve se repetir, mesmo com o presidente disputando a reeleição. O governo federal é um caos e até beneficiados diretos durante a campanha anterior, como o próprio Alessandro, hoje são críticos.
O que pode provocar alguma mudança no quadro eleitoral futuro no estado seria uma decisão do TSE pela cassação do mandato da chapa Belivaldo/Eliane Aquino (PT), conforme recomendação do TRE, porque provocaria o surgimento um nome novo para governador-tampão.
Com a saída do PT do bloco governista – é só uma questão de tempo – a tendência é que os partidos que integram o Centrão no Congresso Nacional se juntem no estado sob a liderança do governador Belivaldo Chagas. Incluindo o DEM de Maria, o PSC ou qualquer outro partido de André, o MDB sem Jackson Barreto e até o PSDB do ex-senador Eduardo Amorim.
* É editor do Jornal do Dia (Artigo publicado originalmente no Jornal do Dia)