Por Antônio Samarone *
O historiador Almeida Bispo me despertou: postou a foto de uma cuieira (coité, cabaceira, pé de cuia), em suas redes sociais. Fiz uma viagem no tempo.
Herdamos a cuia dos Índios. Muito usada em celebrações para beber o cauim.
Cansei de tomar banho de cuia. Isso mesmo, aquele banho de sopapo, que os meninos odiavam. Eu adorava! Mamãe mornava a água e, deliciosamente, despejava-a com uma cuia, aos poucos, em minha cabeça.
Lembro-me dos arrepios nas costas.
Não falo do banho de cuia das peladas, um drible humilhante, próprio dos craques, que os pedantes chamam de lençol, chapéu, balãozinho. Fazer o gol, dando um banho de cuia no “back”, era a glória suprema.
O meu banho de cuia era com água e sabão de coco.
Antes do Sistema Métrico, a cuia era usada como medida para secos, representando 1/32 do alqueire (36,32 litros). Alcancei farinha vendida em cuias, na feira de Itabaiana. Uma cuia de farinha era um litro bem medido, um pouco mais.
Meia cuia de farinha era um padrão para esmolas.
A cuia também serve de prato, usada pelos pataqueiros e boias-frias na roça.
Os barbeiros cortavam cabelos usando uma cuia na cabeça do cliente. Se raspava da cuia para baixo. Passava-se a máquina zero. Sobrava um toco redondo de cabelos, no “cucurute” do freguês.
No Sul, a cuia em forma de cabaça é tradicional, para quem toma chimarrão. No Norte, usa-se a cuia para se tomar o tacacá.
A cuia é parte importante de um instrumento musical, sagrado para a Capoeira, o Berimbau.
Quando alguém casa, vai morar junto, se diz que juntou as cuias. E quando viaja para longe, para demorar, se diz que foi de mala e cuia. Não deixou nada.
Para finalizar, a cuia pode ser usada como “marca de qualidade”. Para se desclassificar uma coisa, um objeto, um sujeito, uma mercadoria, se diz que é marca Cuia. E aí, o rádio é bom? Que nada, é um rádio marca Cuia.
Por exemplo: temos um Governo “marca Cuia”!
* É médico sanitarista