Desde antes da pandemia do coronavírus, os veículos tradicionais de comunicação têm encontrado nas redes sociais um concorrente incômodo, comumente usado para a disseminação de informações falsas, ideias equivocadas e campanhas de desinformação que buscam deslegitimar os próprios veículos. Esse fenômeno tem sido representado pela figura das chamadas “tias do zap”. São pessoas que repassam mensagens com conteúdos diversos, através de grupos do Whatsapp e das redes sociais. Isso tem despertado a percepção de que as pessoas estão mesmo tendendo a acreditar mais nas redes sociais do que sai no rádio, no jornal, na televisão e nos sites de notícias.
Só que essa percepção não é de toda verdadeira. De acordo com o jornalista e professor Caio Mário Guimarães Alcântara, doutorando em Educação e docente dos cursos de Jornalismo e Publicidade da Universidade Tiradentes (Unit Sergipe), as redes sociais não representam todo o espaço público, porque ainda não alcançam a todos. “Estatísticas mostram que pouco mais de 51% da população mundial tem acesso regular às redes sociais. Não dá para limitar os debates comunitários a esse espaço. A convivência, as narrativas e coberturas da mídia tradicional e diversas outras formas de comunicação, como os meios alternativos, por exemplo, também são plataformas relevantes na aquisição de informação e construção de conhecimento”, esclareceu.
Apesar disso, as redes sociais têm disputado a atenção e a credibilidade do público com os veículos tradicionais, por força da ação de grupos e pessoas que usam dos espaços para divulgar suas ideias, marcar posições e engajar outras pessoas. “O que ocorre é que as redes sociais são espaços de livre expressão (em certa medida). Assim, muitas pessoas, grupos, empresas, etc., buscam esses espaços para se posicionar e convencer pessoas, formar a inteligência coletiva e, na lógica dos algoritmos, essa é uma estratégia que funciona bem. Temos então um problema sério: de um lado pessoas que, muitas vezes sem escrúpulos ou com intenções escusas, utilizam esses espaços virtuais para disseminar mentiras. Do outro temos as redes sociais que, na condição de empresas, faturam alto com interação, volume de transmissão de dados ou mesmo venda destes”, afirma Caio.
O professor se refere ao uso de algoritmos pelas empresas que criam e administram as redes sociais, como parte de estratégias para atrair público e aproveitar o potencial financeiro que a audiência oferece. “Cada rede social conta com departamentos de estudos e análises para entender os movimentos de mercado e direcionar algoritmos e estratégias. Desde as mais simples, até as mais complexas. Assim, o consumidor (ou usuário) sempre tem à sua disposição somente o conteúdo que lhe agrada e convive somente com pessoas que concordam com esses posicionamentos”, pontua Alcântara, que também atribui o conflito das mídias sociais com a mídia tradicional a “uma polarização exacerbada no mundo, fruto da formação social dos sujeitos na atualidade”.
Validando a verdade
Para reagir à crescente influência das redes sociais, os veículos tradicionais têm reforçado suas práticas de checagem e apuração rigorosa das informações publicadas, de modo a esclarecer e desmentir as informações falsas que circulam nas redes sociais. É o que ficou evidente com a atuação dos serviços e agências de checagem formados por jornalistas independentes ou de grandes empresas do ramo. Para o professor Caio, estas iniciativas reforçam a credibilidade da mídia tradicional e a colocam no papel de validadora das informações e mensagens correntes, quanto à veracidade delas.
“Os veículos tradicionais devem trazer à tona o verdadeiro sentido do que é fazer jornalismo: apurar, entrevistar, investigar para dar à sociedade o máximo de informações, fazendo com que os sujeitos tenham condições de formar seus entendimentos. É uma tarefa difícil, em especial em tempos de polarização e tendo tantas figuras renomadas do jornalismo disseminando, inclusive, informação falsa. Mas a função social do jornalismo nunca foi fácil, no entanto, sempre foi cumprida”, ressaltou o professor da Unit.
Fonte: Ascom/Unit