Formado em 2006 quando Marcelo Déda se elegeu governador pela primeira vez, o bloco de um amontoado de partidos que comanda o estado de Sergipe até agora deverá ser dividido em três na disputa para o governo em 2022. O casamento da disputa estadual com a presidencial faz com que os partidos queiram ampliar suas bases para garantir palanques sólidos nos estados para os seus candidatos a presidente.
Em Sergipe, ainda há pendência do julgamento pelo TSE do recurso contra a cassação da chapa Belivaldo Chagas/Eliane Aquino, imposta pelo TRE-SE em 2019, por abuso do poder político, e que deve acontecer ainda este ano. A manutenção da decisão do TRE provocaria um grande reboliço na política sergipana e poderia alterar as chances dos candidatos, em função da necessidade de eleição de um governador tampão pela Assembleia Legislativa.
Esta semana, a direção nacional do PT incluiu a candidatura do senador Rogério Carvalho ao governo de Sergipe como uma das prioridades do partido, que deverá ter o ex-presidente Lula de volta à disputa nacional. Em 2020, o PT já apresentou candidato a prefeito de Aracaju contra Edvaldo Nogueira (PDT), que era o indicado pelo bloco governista. Márcio Macêdo centralizou a sua campanha à PMA atacando Edvaldo mais do que os candidatos da oposição – Danielle Garcia (Cidadania) e Rodrigo Valadares (PTB). O PT acabou amargando um péssimo quarto lugar, com 9,55%, ou 25.070 votos.
Rogério iniciou a campanha para o governo logo que foi confirmada a sua eleição para o Senado em 2018. Rodou o estado agradecendo as lideranças que apoiaram a candidatura e preparando o PT para as eleições municipais. Em 2020 levou o PT para alianças com partidos de direita, como DEM, PP e PSC, e de centro-esquerda, como PSB e PDT. Para a disputa do próximo ano deve ter o PSB como aliado principal, mas sem deixar de lado qualquer partido e/ou liderança que queira se somar ao projeto, a exemplo do DEM da senadora Maria Carmo, que está completando 24 anos de Senado e 80 anos de idade.
Além de Rogério, fazem campanha aberta para o governo, os deputados federais Fábio Mitidieri (PSD) e Laércio Oliveira (PP). Os nomes do conselheiro do TCE Ulices Andrade e do prefeito Edvaldo Nogueira seriam os preferidos entre os aliados mais próximos a Belivaldo, mas existem dificuldades práticas para isso. Ulices teria que largar logo o cargo vitalício 10 anos antes de atingir a compulsória, e Edvaldo ao menos se licenciar da PMA, poucos meses depois de ter iniciado a nova gestão e em plena pandemia da covid-19, para iniciar a pré-campanha até o mês de abril, prazo final da desincompatilização.
No impedimento de Ulices e Edvaldo, Fábio deverá ser o escolhido, mesmo sendo considerado “muito moço” pelos seus 44 anos de idade. É tido como cumpridor da palavra, já está em campanha percorrendo todos os municípios e tenta ampliar o arco de alianças para fortalecer o seu projeto. Hoje está muito próximo do ex-deputado federal André Moura (PSC) que perdeu a eleição para o Senado e pretende voltar a disputar em 2022. Como Mitidieri não apoia a candidatura à reeleição do presidente Bolsonaro – a opção natural seria Lula, mas a candidatura de Rogério dificulta isso, deverá fazer a opção por Ciro Gomes (PDT), em função do prefeito Edvaldo Nogueira.
Laércio Oliveira poderá se transformar no candidato bolsonarista em 2022 e congregar boa parte dos partidos do chamado Centrão, que trocaram o apoio ao presidente no Congresso Nacional por cargos e emendas parlamentares. Empresário, Laércio se identifica com os programas do governo federal, foi o relator da famigerada reforma trabalhista e esta semana atacou com veemência a CPI da Pandemia, com discurso parecido com o do próprio Bolsonaro.
Se a legislação eleitoral não for alterada a tempo e for mantida a legislação atual que impede coligações para a formação de chapas de deputado estadual e de deputado federal, pode ser mais interessante disputar um mandato majoritário do que proporcional em função da visibilidade, mesmo em caso de derrota. Hoje um partido precisaria de 100 a 110 votos para eleger o primeiro federal e de 40 a 50 mil votos para eleger o primeiro estadual.
Com mais opções, a disputa pela sucessão de Belivaldo Chagas deixa de ser apenas governo X oposição, como ocorreu em 2010 (Déda X João Alves Filho), 2014 (Jackson Barreto X Eduardo Amorim) e 2018 (Belivaldo X Valadares Filho). Essa frente não se justifica mais.