Por Gilvan Manoel *
Apesar do convite que teria recebido de um ‘emissário’ do ex-presidente Lula para que fosse candidato ao Senado, o governador Belivaldo Chagas (PSD) garantiu que pretende concluir o seu mandato e não participar diretamente das eleições de 2022. A atual vice-governadora, Eliane Aquino (PT), viúva de Marcelo Déda, não acalenta a possibilidade de vir a assumir o governo e muito menos em ser a candidata do partido ao governo em 2022, mas já avisou que pretende disputar as eleições como candidata a deputada federal.
Na semana passada, ao nomear o ex-deputado Zeca da Silva como novo secretário-executivo da Secretaria de Estado Geral de Governo o governador deu sinais de que começa a ceder aos argumentos do deputado federal Fábio Mitidieiri (PSD), que se apresenta como o mais agressivo candidato do grupo à sucessão estadual. Zeca é vinculado politicamente ao ex-deputado André Moura (PSC), nome preferido de Mitidieri na disputa para o Senado em sua chapa.
Belivaldo já cogita a definição do nome do candidato do grupo entre setembro e outubro deste ano e não em abril do próximo ano, como sempre acontece nos anos eleitorais – as convenções são realizadas em julho. A escolha antecipada é muito favorável a Fábio Mitidieri e prejudicial ao prefeito de Aracaju Edvaldo Nogueira (PDT) e ao conselheiro do TCE Ulices Andrade, também citados como pré-candidatos no bloco governista. Envolto no combate a pandemia da covid-19, Edvaldo só admite discutir uma eventual candidatura a partir de janeiro. Já Ulices só poderia discutir abertamente questões eleitorais a partir do afastamento do cargo.
O governador não toca no assunto, mas a demora do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em julgar recurso contra a cassação da chapa Belivaldo/Eliane aprovada pelo TRE-SE acaba inibindo os seus passos. Se for mantida a cassação, os dois seriam afastados do cargo, mas teriam sentenças diferentes: Belivaldo estaria inelegível por oito anos porque disputava a reeleição e havia usado o poder político para a vitória, enquanto Eliane estaria apta a disputar a eleição, porque só veio a assumir o cargo em janeiro de 2019 e não participou do suposto uso da máquina na campanha, mesmo tendo sido beneficiária direta.
Na arquitetura política montada pelo grupo, ninguém discute a possibilidade de Belivaldo vir a transferir o cargo para Eliane. Todas as composições políticas em discussão levam em consideração a permanência do governador até o final do mandato e transferem para ele o comando da sua própria sucessão.
O bloco que está no poder desde 2006, deverá chegar a 2022 menor. É certa a candidatura do senador Rogério Carvalho (PT) ao governo, independente da posição de Belivaldo. A candidatura do ex-presidente Lula poderá, inclusive, atrair outros partidos da base governista em torno de Rogério.
Nas eleições municipais de 2020, Belivaldo e o PT quase chegaram à ruptura, quando Márcio Macêdo, o candidato petista à Prefeitura de Aracaju, acusou o governador de usar a máquina administrativa para beneficiar o prefeito Edvaldo Nogueira (PDT), antigo aliado que disputava a reeleição. O PT fez uma campanha mais virulenta contra Edvaldo do que a delegada Danielle Garcia (Cidadania), a candidata da oposição e que chegou ao segundo turno.
Se conseguir superar os obstáculos judiciais e não disputar as eleições, Belivaldo mudará o curso da história recente da política sergipana. O último governador que resolveu concluir seu mandato sem a possibilidade mais de disputar a reeleição foi Albano Franco, em 2002. João Alves Filho disputou a reeleição em 2006, Marcelo Déda em 2010, Jackson Barreto em 2014 e Belivaldo em 2018.
Desde a ascensão de Déda, os vice-governadores se transformaram em candidatos a governador quando não havia mais a possibilidade de reeleição. Jackson teria sido o candidato de Déda em 2014, caso ele não tivesse morrido no ano anterior, e Belivaldo foi o candidato de JB no pleito seguinte.
Se anunciar o candidato do bloco governista ainda este ano, Belivaldo Chagas será o mais afetado, principalmente se o indicado estiver liderando as pesquisas eleitorais. As lideranças políticas, aos poucos, vão se afastar do governador de olho no futuro.
* É editor do Jornal do Dia (Artigo publicado originalmente no Jornal do Dia)