Por Gilvan Manuel *
O governador Belivaldo Chagas administra sem oposição desde quando assumiu em abril de 2018, substituindo a Jackson Barreto. Adotou medidas duras para a recuperação econômica do estado, foi reeleito com folga, apertou o cinto ainda mais, enfrenta a pandemia da covid-19 sem contestações, aprova todos os projetos com folgada maioria na Assembleia Legislativa, atua em sintonia com os demais poderes para evitar problemas, fala, faz o que quer e bem entende e todo mundo calado.
Nenhum dos grandes líderes que administrou o estado a partir de 1982, quando foram retomadas as eleições diretas para os governos estaduais, teve tanta folga assim. João Aves Filho, Albano Franco, Marcelo Déda e Jackson Barreto possuíam maioria na Alese, mas eram contestados por uma oposição barulhenta – Déda chegou a perder a maioria para os irmãos Amorim -, os sindicatos de servidores e movimentos sociais eram atuantes e davam muito trabalho. A oposição a Belivaldo se resume ao Sintese. O PSB saiu destroçado das eleições de 2018 com a perda dos mandatos dos Valadares, pai e filho.
Os servidores estaduais estão sem reajuste há 10 anos e nem a reposição inflacionária anual é concedida, mas ficaram satisfeitos quando o governador anunciou em fevereiro deste ano que o estado estaria passaria a pagar a folha dentro do mês. Quebrados devido a suspensão das atividades econômicas em função da pandemia, os comerciantes aceitaram sem ponderações o tímido pacote de estímulos na área tributária e crédito caro oferecidos pelo governador.
Com a recuperação econômica do estado, o governador faz festivas cerimônias, sempre com a presença de aliados políticos, para autorizar obras ou inaugurar o que já estava pronto. E começa a anunciar pequenos projetos com baixo custo financeiro, mas com grande repercussão social, a exemplo do Cartão Mais Inclusão (CMais) “Sergipe Acolhe”, um programa que vai beneficiar crianças e adolescentes em vulnerabilidade social que acabaram perdendo os pais ou responsáveis durante a pandemia, com um auxílio mensal de R$ 500, que será lançado nos próximos dias.
Como já anunciou que vai permanecer no cargo até o final do mandato, Belivaldo chegará as eleições de 2022 com amplas chances de eleger o seu sucessor, mesmo com a saída do PT do bloco aliado, já que o partido deverá apresentar a candidatura do senador Rogério Carvalho. A disputa se dará entre o candidato do governador, provavelmente o deputado federal Fábio Mitidieri (PSD), e o petista, que ganhou boa visibilidade com a sua atuação na CPI da Covid-19 e será fortalecido se for confirmada a candidatura do ex-presidente Lula. A oposição é hoje representada apenas pelo senador Alessandro Vieira (Cidadania), que reluta em confirmar a sua candidatura a governador.
Nas eleições municipais de 2020, Belivaldo e o PT quase chegaram à ruptura, quando Márcio Macêdo, o candidato petista à Prefeitura de Aracaju, acusou o governador de usar a máquina administrativa para beneficiar o prefeito Edvaldo Nogueira (PDT), antigo aliado que disputava a reeleição. O PT fez uma campanha mais virulenta contra Edvaldo do que a delegada Danielle Garcia (Cidadania), a candidata da oposição e que chegou ao segundo turno. Rogério, no entanto, não cometerá o mesmo erro e vai trabalhar para agregar todos os que estão insatisfeitos com o governo, município por município, independente de cor partidária, como fez Déda em 2006.
A demora do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em julgar recurso contra a cassação da chapa Belivaldo/Eliane, aprovada pelo TRE-SE, favorece o governador. Na reta final do mandato, dificilmente o TSE manteria a cassação. E um julgamento favorável fortaleceria ainda mais a sua base política.
Sem cassação, com uma oposição capenga, maioria folgada no parlamento, Ministério Público e Tribunal de Contas parceiros, e a mídia sufocada pela crise econômica, Belivaldo chegará a 2022 com força total: economia estadual em ordem, dinheiro para fazer agrados aos servidores e parcerias com as prefeituras, além de obras para inaugurar. Só mesmo o risco Bolsonaro poderá afetar o planejamento do governador.
Nenhum governador de Sergipe teve uma oposição tão mansa quanto Belivaldo Chagas.
* É editor do Jornal do Dia
(Texto publicado Originalmente no Jornal do Dia)