Por Antonio Samarone *
O Rio Santa Maria nasce nas matas do Caípe Velho, é um afluente do Rio Vaza Barris. Já foi o principal caminho para o transporte do coco entre o Mosqueiro e Aracaju.
Entre 1840-44, o rio Santa Maria recebeu uma obra de engenharia de grande porte. Foi aberto um canal até o rio Poxim, tornando possível a comunicação direta entre as embarcações que transitavam pelo Vaza-Barris e o Sergipe, sem ter o grande inconveniente de navegar pelas duas perigosas barras.
O Canal de Santa Maria recebeu melhoramentos em 1932. tornando-se uma via navegável para as embarcações da época. As canoas eram empurradas por grandes varas, deixando uma marca no tórax dos canoeiros. Uma deformação ocupacional.
O atual e promissor complexo habitacional Santa Maria, antiga Terra Dura, foi a resultante de ocupações desordenadas e precárias, por pessoas carentes em busca de moradia. Lembro-me das ocupações mais importantes: as do arrozal, morro do avião, loteamento Marivan, Prainha, gasoduto.
Contudo, a mais importante, do ponto de vista ambiental, foi a ocupação do trecho do canal Santa Maria (Terra Dura), que permitia a ligação fluvial entre o Vaza Barris e o Sergipe.
O canal foi aterrado e ocupado por pessoas carentes, durante o Governo Valadares. Hoje resta um “córrego”. Durante esse mesmo governo, foi construído na Terra Dura, um conjunto habitacional que leva o seu nome.
Atualmente, a parte navegável do Rio Santa Maria chega até a chamada curva do Rio, no Bairro São José dos Náufragos. Não sei até quando.
Com a mudança das denominações das localidades da Zona de Expansão para “bairros”, existe a expectativa de uma invasão da indústria da especulação imobiliária, pondo abaixo o que resta de restingas e manguezais. Deus nos proteja!
Não sou contra o desenvolvimento do Aracaju, pelo contrário, desde que seja um crescimento sustentável. Não é impossível impor regras civilizadas.
Por minha conta e risco, consultando o tratado “Biogeografia do Estado de Sergipe”, do grande pesquisador Emmanuel Franco; consultando o saber popular das marisqueiras, identifiquei, a seguinte vegetação nos manguezais.
1. Mangue vermelho ou sapateiro (Rhyzophora mangle), que possui as raízes em escoras, penetrando mais profundo;
2. Mangue biriba (Avicennia nítida), possui flores levemente perfumadas, a sua madeira era usada na fabricação de lápis;
3. Mangue manso (Laguncularia racemosa);
4. mangue de botão ou Mangue bola (Conocarpus erectus);
5. Mangue branco.
Nas matas da restinga:
Angelim (Andira nítida), cajueiro (Anacardium occidentale), Oroba (Cocos schyzophilla). Dicurizeiro (Syagros coronata), murta (Myrcia sp), aroeira de praia (Schinus terebinthifolius) e bula-cinza (Hirtella ciliata).
Claro, uma iniciativa por simples curiosidade. Os biólogos, geógrafos, pesquisadores e ambientalistas podem corrigir os erros e aprofundar o levantamento.
Espero ingenuamente que a Prefeitura de Aracaju cuide da questão ambiental e só permita uma ocupação urbana sustentável, dessa área.
É o futuro urbano do Aracaju.
* É médico sanitarista