Por Afonso Nascimento *
Os professores da UFS têm, por assim dizer, duas cidadanias políticas. No seu local de trabalho podem eleger e ser eleitos e nisso reside a sua primeira cidadania. Trata-se de uma cidadania censitária, tendo os votos pesos diferentes para cada uma das categorias (professores, estudantes e servidores) que compõem a UFS. Só para ilustrar o caso mais flagrante de voto censitário, o reitor eleito indica, fora da eleição direta, vários membros do Conselho Universitário, do Conselho de Ensino e Pesquisa e Conselho Diretor.
Enquanto agrupamento da sociedade brasileira, os docentes da UFS possuem o direito de eleger os membros dos parlamentos e os ocupantes dos executivos, ambos nos seus três níveis de governo. No momento em que escrevo esse pequeno texto, só existe um professor da UFS, salvo engano de minha parte, detentor um mandato eletivo. Trata-se do senador petista Rogério Carvalho, do Departamento de Medicina. No período anterior à fundação da UFS em 1968, as seis faculdades existentes tiveram diversos professores como candidatos e com mandatos.
De 1968 a 2021, diversos professores foram eleitos e exerceram mandatos políticos. Sem pretender ser exaustivo, cito de memória Manuel Cabral Machado (Direito), Rafael Oliveira (Economia), José Araújo (Letras). Dr. Emerson (Medicina), Carlos Alberto Meneses (Direito), Gilson Rocha (Medicina), entre outros mais. O número é bem maior se também forem levantados os nomes dos candidatos que tentaram e perderam as competições eleitorais. Como o título acima sugere, estou interessado aqui naqueles professores que foram candidatos pelo Partido dos Trabalhadores (PT), tratando mais precisamente do assunto.
Preciso dizer, antes de me aprofundar no assunto, que o PT nasceu parcialmente dentro da UFS, no sentido de que foram os professores (mais estudantes e servidores) um dos grupos (além de sindicalistas, padres, ex-membros de organizações que antes militavam na clandestinidade e movimentos sociais progressistas) que contribuíram para fundar o PT sergipano. Um deles foi o professor Josué M. Passos, proveniente do Partido Comunista Brasileiro, integrante de sua primeira diretoria. Esse laço do PT com a UFS tem tudo a ver com as lutas de professores universitários para pôr um termo no regime militar dentro da própria UFS, mediante a pressão para estabelecer a eleições diretas para a Reitoria e através de lutas para fundar o seu próprio sindicato docente, além de seu apoio ao novo sindicalismo do setor privado e público da economia e aos novos movimentos sociais. Não podem ser esquecidas as lutas dos professores da UFS para a fundação Comitê Estadual da Anistia, para o movimento das Diretas-Já e para a campanha para eleger Tancredo Neves presidente.
Os professores da UFS foram militantes e candidatos a mandatos eletivos – e, só mais tarde, alguns poucos conquistaram mandatos políticos. A sua participação pareceu ter como objetivo marcar sua presença entre os partidos políticos e fazer-se familiar junto ao eleitorado sergipano. O empenho dos professores adiante mencionados ocorreu sobretudo nos anos 80 e 90 e ninguém conquistou mandato saído das urnas.
Apresento aqui uma lista de tais candidatos preparadores do terreno para a chegada ao poder municipal de Aracaju e de Sergipe por Marcelo Déda, eleito deputado estadual, deputado federal, prefeito e governador. Eis aqui os seus nomes e as datas das eleições de que participaram: Governador: Tânia Elias Magno da Silva, 1986; Senador: Luiz Alberto dos Santos, 1986; Deputado Federal: Jorge Carvalho do Nascimento, 1990; Carlos Ayres de Freitas Britto, 1990. Deputado Estadual: Rosemiro Magno da Silva, 1982; José Costa Almeida 1982, Neilza Barreto de Oliveira, 1986 e Antônio Samarone de Santana, 1998 (Cf. 100 anos de eleições em Sergipe. Aracaju: Tribunal Regional Eleitoral, 2003). Distribuindo a participação dos professores por departamento, eis o o quadro que aparece: dois professores de Ciências Sociais (Tânia, Neilza, Rosemiro e Luiz Alberto), um de Direito (Britto), um de Medicina (Samarone) e um de Educação (Jorge), sendo os dois últimos oriundos do PCB.
Embora em termos de números não tenham sido algo espetacular, esses professores da UFS participaram dessa fase heroica como militantes de movimentos sociais, como sindicalistas (nem todos, é verdade) e como militantes e filiados do PT. Fizeram história, mesmo sem sucesso eleitoral. Por que houve tanto declínio dos professores da UFS nas competições eleitorais? Uma miríade de causas explica essa retirada dos professores da política partidária, entre elas estando a questão do envelhecimento e das aposentadorias, a sua maior profissionalização, as suas mortes, as suas mudanças para outros partidos políticos, o seu desengajamento puro e simples e os escândalos do PT nacional.
A chegada do PT ao poder executivo de Aracaju e ao governo de Sergipe com Marcelo Déda, que teve muito a ver a militância de professores (estudantes e servidores da UFS), levou diversos professores à ocupação de cargos de confiança. O que as futuras eleições dirão sobre a participação eleitoral de professores da UFS? O que aconteceu nos anos 80 e 90 foi algo fora do comum, produto de um contexto histórico que deixou de existir e não se repetirá. Hoje em dia os professores da UFS estão mais profissionalizados e não têm tempo para fazer política fora dos muros da UFS. Excepcionalmente, novos nomes podem aparecer ligados ou não ao PT.
PS: Os professores da rede estadual e municipal de ensino foram mais bem-sucedidos que os professores da UFS nos certames eleitorais. Porém, isso é outra história.
* É professor de Direito da UFS