Por Antonio Samarone *
Após secular quarentena, aproveitei o Dia de Finados para retornar, com calma, à Itabaiana.
Passei logo no Cemitério. Uma festa! Vivos e mortos em plena confraternização. Mamãe foi a mais feliz com a visita, relembramos muita coisa. Achei papai triste, reclamou da foto dele que botamos na sepultura. Papai não gostava da barba malfeita.
Visitei os meus avós, tios, amigos e conhecidos. Muita gente de minha geração no descanso eterno. Captei a mensagem.
A cidade está limpa e bem cuidada.
Fui à Praça da Igreja para confirmar se a Prefeitura tinha mesmo arrancado o Pé de Quixabeira. Arrancaram! Santo Antonio Fujão está no relento, debaixo do sol e da chuva. Encontrei com Fefi, num banco próximo. Disse a ele o que eu pensava sobre essa brutalidade.
Visitei a minha última tia viva, um doce de pessoa. Está com 82 anos, mora só e faz de tudo. Ainda vai a feira. A minha tia Caçulinha me deu uma esperança, ela continua com a memória cem por cento.
Fui à casa de um amigo que está convalescendo. O iconoclasta professor Taurino. Uma pessoa muito respeitada em Itabaiana. Sempre crítico e equilibrado. Um grande papo. Lembramos do Bar de Lessa, da Rua do Tanquinho e do velório da esposa de Seu Filomeno.
Taurino estava no famoso velório da esposa de Filomeno e me contou a verdade. No outro dia perguntaram a Filomeno: “O senhor não achou ruim passar a noite em claro, sem dormir?” Ele respondeu com graça: – “Que nada, outros dormiram por mim!”.
Esta é verve Itabaianense, tão cultuada por Alberto Carvalho.
Entrei na conversa política. Taurino, o que você acha do Governo Bolsonaro? Ele me respondeu de forma enigmática: – “Não conheço nenhum bolsonarista melhor do que Bolsonaro”. Estou matutando até agora. Eu também não conheço.
Em outras palavras, o bolsonarismo revelou um mundo incubado, desconhecido. A tal maioria silenciosa era isso?
Ninguém volta de Itabaiana, sem novidades.
* É médico sanitarista.