Há cerca de um século e meio as populações ribeirinhas do baixo e médio São Francisco passaram a usar a canoa sergipana como um dos principais meios para transporte de carga, pesca, locomoção e diversão, através de regatas recreativas. Com o tempo, ela passou a ser presença marcante também nas águas dos rios Vaza-Barris, Sergipe, Japaratuba, Piauí e Real. O modelo é uma variação da canoa de Tolda e foi criado por pescadores, canoeiros e mestres navais. Este ano, o principal símbolo dessas comunidades será a personagem principal de um evento que pretende entrar no calendário esportivo do Estado: a I Corrida de Canoas Sergipana.
Com o patrocínio do Banese, a Corrida será realizada na próxima quarta-feira (8) a partir das 10h30 no estuário do Rio Sergipe, na Avenida Beira Mar. Uma estrutura especial será montada no Largo da Gente Sergipana para que a população possa acompanhar o evento. O local também será palco da premiação final, que será seguida pela apresentação do grupo de Samba de Coco de Seu Diô, do Povoado Mosqueiro.
A competição abre, oficialmente, os eventos comemorativos pelos 60 anos do banco, que culminará com o show da cantora e compositora Vanessa da Mata, que dividirá o palco com diversos artistas sergipanos, na sexta-feira (10), a partir das 19 horas, no estacionamento do Museu da Gente Sergipana. Dezessetes embarcações, vindas de diversos locais do Estado, participarão da regata.
Importância da canoa
De acordo com o gerente de Segurança Patrimonial do Banese e um dos coordenadores da Corrida, Alexandre Maia Caldeira, há cerca de um ano os canoeiros, pescadores, organizações civis e velejadores do Rio Vaza-Barris iniciaram as discussões sobre a construção de um evento, que tivesse dentre os seus objetivos, mostrar a importância cultural e histórica que a canoa sergipana tem para os povos tradicionais ribeirinhos; informar sobre a necessidade de reconhecimento e preservação desse patrimônio cultural; e chamar a atenção dos sergipanos para a realização de ações de preservação ambiental dos estuários locais.
“O apoio do Banese para a realização do evento já é uma marco na história das comunidades ribeirinhas locais. Para o banco, que tem no DNA ações de preservação e promoção das diversas tradições culturais do estado, poder ajudar e integrar a corrida nas comemorações pelos 60 anos de existência da instituição foi um belíssimo presente”, afirma Alexandre Maia.
Segundo o pescador e vice-presidente da Associação dos Pescadores e Amigos Do Povoado Areia Branca (Apapab), Marcos André Nascimento, 35, nativo das margens do rio Vaza-Barris, as canoas sergipanas existem há mais de um século, antes do nascimento dos bisavôs dele, mas infelizmente são desconhecidas fora das nossas comunidades ribeirinhas.
Enriquece a cultura
“Graças a Deus e ao Banese, que valoriza e enriquece a cultura sergipana, essa situação mudará. Ter colocado a I Corrida de Canoas Sergipana dentro da programação pelos 60 anos do banco foi muito importante para nós, fez com que os pescadores se sentissem valorizados. Estamos muito felizes com essa iniciativa do banco”, declara ele.
O evento é uma realização da Associação dos Pescadores e Amigos do Povoado Areia Branca (APAPAB), da ONG Casa de Mar e Coletivo Anjos do Rio, com o patrocínio do Banese. A corrida conta, ainda, com o apoio da Capitania dos Portos de Sergipe, Ambientec Coletivo de Canoeiros e Pescadores, Coletivo de Mestres Canoeiros, Grupo Barlavento de Vela, e a ONG Sou+Rio Vaza Barris.
Sobre a canoa sergipana
Se não é possível, ainda, precisar a data de surgimento da canoa sergipana, o ribeirinhos garantem que a história da embarcação ultrapassa os 150 anos. Derivada da Canoa de Tolda, que era utilizada para transporte de cargas (capacidade de 12.000 kg) na região do baixo São Francisco, a embarcação foi sendo modificada ao longo dos anos, até chegar ao formato atual. A mudança não foi apenas estética, mas também das relações sociais, culturais e comerciais nos locais onde elas estão presentes.
A revolução deveu-se a uma tecnologia de navegação diferenciada, que proporcionou mais velocidade e agilidade a partir da utilização de dois traquetes, e com isso, duas velas e bolina, pouco conhecidas à época. As antigas barcas, chamadas de barcas de figura, utilizavam velas latinas, além das vogas (enormes remos) que exigiam mais tripulantes e grande esforço por parte deles, além de aumento nas despesas e do tempo de viagem.
“O novo modelo teve forte impacto na organização socioeconômica e cultural dos povos ribeirinhos. Com uma embarcação mais ágil e leve, as tripulações podiam atender a mais demandas por transporte e navegar por regiões com menor profundidade”, explica a antropóloga e pesquisadora, Yalaxé Martha Sales, que também é fundadora do Espaço de Arte, Cultura e Educação Casa de Mar, uma das entidades realizadoras do projeto.
Com as modificações e especificidades náuticas, a exemplo da hidrodinâmica, a canoa sergipana assumiu também lugar especial no âmbito das competições esportivas e recreativas. Segundo Martha Sales, tudo indica que as alterações na canoa de Tolda, que levaram à canoa sergipana, foram iniciadas por Mestre Minervino Amorim, pescador que atuava em Propriá.
I Corrida de Canoas Sergipana
A I Corrida de Canoas Sergipana será realizada no dia 8 de dezembro, no estuário do rio Sergipe, na capital sergipana, a partir das 10h30, quando terá início o cortejo de apresentação dos barcos, que desfilarão da prainha do Iate Clube de Aracaju (Icaju) até a Ponte do Imperador, de onde retornarão, bordejando para o público em frente ao Largo da Gente Sergipana, seguindo depois para o ponto de partida.
A regata está marcada para às 11h30 e o percurso a ser cumprido será da prainha do Icaju – Ponte do Imperador – prainha Icaju. Participarão canoas oriundas do Bairro Industrial e dos povoados Mosqueiro, Matapuã e Areia Branca, em Aracaju; Povoados Castro e Terra Caída, em Indiaroba; São Cristóvão; e Barra dos Coqueiros.
A competição possui duas categorias: A – com canoas sergipanas com tamanho entre 7m e 8m metros; B – com embarcações de 8m a 9,6m de comprimento. Os vencedores do 1°, 2° e 3° lugares receberão prêmios de R$ 700,00, R$ 500,00 e R$ 300,00 respectivamente. Do 4° ao 17° lugar, cara participante receberá R$ 100,00.
Programação
10h30: Cortejo de apresentação dos barcos;
11h30: Largada da categoria B (embarcações com metragem entre 8m e 9,6m);
11h40: Largada da categoria A (embarcações com metragem entre 7m e 8m);
12h30: Chegada;
13h30: Premiação no Largo da Gente Sergipana;
14h30: Samba de Coco de Seu Diô (Povoado Mosqueiro);
15h30: Encerramento.
Fonte: Ascom/Grupo Banese