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Um grito de liberdade

Isaque Cangassu mora em Sergipe e atua como delegado há mais de 14 anos

Por Isaque Cangussu *

Policiais e bombeiros sergipanos foram esquecidos pelo governo durante anos a fio. A pseudo-justificativa de que o Estado estava “quebrado” bastava para ignorar qualquer clamor da categoria.

Após quase uma década sem sequer a correção inflacionária dos seus subsídios, num país onde a inflação segue galopante, os policiais migraram de classe social. Sim, é verdade. As moradias não são mais as mesmas; os carros (para quem ainda os tem) são de modelos inferiores; os colégios dos filhos não são mais os que eram; os planos de saúde, para quem ainda consegue ter, são os mais simples; viagens de lazer: “o que é isso”?

Enquanto isso, outras classes de servidores privilegiados viram benefícios se acumularem. Se não pode mais ter aumento, cria-se um auxílio e pronto, resolvido.

Durante um ano e meio, os policiais e bombeiros sergipanos, através de um movimento inédito no país, o Polícia Unida, tentaram dialogar com o governo do Estado. Foram cozinhados lentamente em fogo brando. Cientes de que em menos de três meses não será mais possível qualquer concessão de melhoria salarial, partiram para luta proletária raiz. A única língua que o patronato entende.

Ocorre que, com menos de uma semana de luta, o Império contra-ataca se valendo de seus canhões. Primeiro, uma ação judicial visando proibir as paralisações legítimas da categoria. Ao mesmo tempo, várias ações da corregedoria com o intuito de reprimir e punir os manifestantes. Não prosperará.

Não se trata mais apenas de valorização salarial. Os antigos súditos despertaram e não mais se renderão à vontade do soberano. Foi dado o grito de liberdade.

Cada ação dos senhores feudais gerará uma reação proporcional da classe trabalhadora. Se pensam que a paralisação é o único instrumento de luta, estão redondamente enganados. Verão muito em breve.

* É presidente da Associação dos Delegados de Polícia de Sergipe

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