Por Antonio Samarone *
No começo da Pandemia de Covid-19, boa parte dos médicos, valendo-se do uso “off-label” dos medicamentos, prescreveram massivamente a cloroquina no tratamento precoce da Peste.
A velha quina, a casca peruana, foi usada inclusive preventivamente.
Não se tratou apenas de uma crença negacionista. O uso do cloro/quina foi chancelado pelo Ministério da Saúde, pelo Conselho Federal de Medicina, pelos sábios e doutores das Universidades. Os Serviços de Saúde dos municípios incluíram o cloro/quina em seus protocolos.
As redes sociais divulgavam vídeos de médicos, alguns famosos, confirmando a eficácia do cloro/quina. Estabeleceu-se uma polêmica, vencida pela tradição.
Não houve novidades. O medo gerado pelas pestes torna o cidadão indefeso. Ouvi muito: “eu vou tomar, se bem não fizer, mal não faz”. E a medicina cumpriu o seu papel, abandonou as veleidades científicas e atendeu a demanda assustada.
Durante a Gripe Espanhola de 1918, os médicos também recorreram a Cinchona Peruana, a velha casca, em forma de Sal de Quinino ou de Elixir de Quina. Na atual Peste, a medicina usou a cloro/quina.
A quina é usada contra a malária desde os tempos coloniais. O medicamento mais famoso da farmacopeia da Companhia de Jesus foi a “triaga basílica”, um composto à base de quina.
Em minha infância, a “Água Inglesa” era um tônico muito usado para má digestão e falta de apetite, entre outras indicações. Servia até para placenta retida.
A “água inglesa” era um composto à base de quina, carqueja e camomila.
Mamãe não dava a “Água Inglesa” aos seus filhos, com um argumento irrefutável: “Fio de pobre não tem fastio”. Verdade, não sei o que é fastio até hoje.
Voltando à cloroquina.
Depois das vacinas, os benefícios do cloro/quina para a Covid-19 foi perdendo prestígio. Os seus defensores foram silenciando. Não se fala mais nisso!
E assim, a história da medicina continua: da magia às “evidências”!
* É médico sanitarista