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Gente Sergipana – William Soares

Por Antonio Samarone *

O médico oncologista Willian Soares acaba de publicar um opúsculo sobre um intrigante capítulo da milenar história da medicina. O livro trata da vida de um médico húngaro, de nome impronunciável, Dr. Ignaz Philipp Semmelweis.

Os médicos gostam de contar a história da medicina como uma sucessão de grandes descobertas, realizadas por gênios e heróis da medicina. O Semmelweis, nessa abordagem, foi um herói.

Willian Soares foi a um Congresso em Viena, e nas horas vagas, ao invés de bater pernas pelo comércio, ele visitou o histórico Hospital Geral de Viena, onde está escrito no Portal de Entrada: “Para a Salvação e Conforto dos Enfermos”. Na visita, o Dr. Willian impressionou-se com a história de Semmelweis.

Chegando a Aracaju, em 17 de julho de 2019, o doutor Willian preparou uma conferência sobre Semmelweis e convidou os colegas. Eu tive a sorte de ser convidado e sair impressionado.

Ontem, recebi em mãos o livro de Willians sobre o tema. Mesmo com catarata (suponho) já devorei o mimo.

O livro de Willian é mais do que uma exaltação ao heroísmo médico.

O livro aborda um episódio da luta entre duas concepções sobre a causa das doenças no século XIX. A teoria dos miasmas versus a teoria do contágio. Não foi fácil convencer aos médicos que as doenças eram causadas por micróbios.

Os médicos acreditavam na teoria da geração espontânea, defendida por Aristóteles, de que os germes poderiam nascer da matéria orgânica em putrefação. Quando Leeuwenhock descobriu as bactérias, a geração espontânea foi fortalecida.

Quando Pasteur e Koch estabeleceram os postulados da microbiologia no final do século XIX, os médicos reagiram com descrença. Em 1865, o cirurgião escocês Joseph Lister, introduziu a assepsia nos atos cirúrgicos.

Nesse período a mortalidade materna era assustadora. As mulheres morriam da febre puerperal, a febre do parto, a praga dos médicos. As mulheres eram contaminadas pelas mãos dos médicos, que saíam das salas de necropsias diretamente para as salas de partos com as mãos sujas.

Semmelweis trabalhava na maternidade do famoso Hospital de Viena. Em 1561, ele publicou um livro de seiscentas páginas, “A etiologia, o conceito e a profilaxia da febre puerperal”. Onde ele afirma que a doença que matava as mulheres durante o parto era causada pelos médicos, e a prevenção era lavar as mãos com água e sabão antes de qualquer parto.

Lavar as mãos para prevenir as doenças, foi uma das maiores descobertas da medicina, que mais salvou vidas.

Semmelweis caiu em desgraça. Seu livro foi desprezado pelos médicos. Depois de muito desgastes, conflitos, tristeza e decepções, os seus colegas levaram Semmelweis à força para um hospício psiquiátrico, vindo ele a morrer aos 43 anos, de um fenômeno séptico no dedo.

A medicina foi ensinada ao deus grego Asclépio (Esculápio para os romanos) pelo centauro divino Quíron. Os discípulos de Quíron aprendiam além da medicina, a música, as artes da guerra e da caça e a ética.

A palavra Quíron vem do grego kheir (mão), Quíron é uma forma abreviada kheirurgos (cirurgião), aquele que trabalha com as mãos. Tudo bem, desde que as mãos estejam limpas. Estou falando da medicina artesanal, em vias de extinção.

Depois que Pilatos lavou as mãos, criou-se uma aversão a essa prática higiênica. Assistimos agora com a Pandemia como é arraigada essa resistência.

O doutos Willian Soares nos conta a desdita de Semmelwies com muita erudição e simplicidade. Willian compõe uma minoria entre os médicos, que une o saber científico da biomedicina com a sensibilidade e a arte da medicina das pessoas. Willian apreendeu a arte e a ciência de Quíron.

No final do livro, Willian transcreve um belo poema “Monologo das Mãos”, de Giussppe Ghiaroni: “As mãos dos amigos nos conduzem; e as mãos dos coveiros nos enterram”
.
Willian Soares tem uma trajetória vinculada a lutas ambientais. Ele passou boa parte da vida divulgando e distribuindo mudas de Pau Brasil em Sergipe. Uma missão que deu certo. O Pau Brasil está livre da extinção.

Recentemente Willian Soares foi eleito Presidente da Academia Sergipana de Medicina, com a missão de pôr fim a longa hibernação da confraria.

É médico sanitarista

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