Por Antonio Samarone *
Dona Rosita da Cova da Onça me presenteou com uma raridade: uma porção de mangas “pingos de mel”. São mangas silvestres, não comerciais. A polpa é fina e fibrosa, o sabor adstringente e forte, com aspecto franzino. O cheiro é bom!
Rosita é um velha amiga dos meus parentes do extinto povoado Matêbe. Na casa da minha avó Gina, tinha um pé dessas mangas. Só Betinho de Bebé dos Passarinho, um amigo do Beco Novo, especialista em frutos tropicais, que está exilado na Flórida, pode fornecer detalhes científicos dessa manga raiz.
A manga Pingo de Mel está para a manga Tommy, como o Araticum está para a Atemoia. No meio da escala agronômica ficam a manga Espada e a Pinha.
Existem no mundo 1600 tipos de mangas, quase todas na Índia. No Nordeste temos uma dezena. As mais apreciadas são as mangas Espada e Rosa. Comercialmente a Tommy e a Palmer. As mangas Maria e a Pão tem o seu valor.
Como diz o poeta: “da manga Rosa eu quero o gosto e sumo”. Eu prefiro a manga Espada da Ilha Mem de Sá, na Enseada do Vaza Barris, em Sergipe. As melhores do Brasil.
A manga Espada se chupa fazendo um furinho na casca, aspirando-se gulosamente a seiva. Depois tira-se a casca com os dedos e enfia-se o carroço na boca, até sujar o pau da venta. As “frepas” ficam entre os dentes. A manga Espada cortada de faca perde o gosto natural.
O cheiro da manga Espada chupada no caroço invade a alma. As mangas de dona Rosita reavivaram a minha memória olfativa e gustativa de infância. Sem esquecer das mangas chupadas, Eu trepado na mangueira.
Cresci sabendo que manga com leite era um veneno. Mamãe tinha certeza de que ninguém escapava. Nunca arrisquei.
Manga com farinha era merenda. Quando a fome apertava comíamos até manga verde.
Sempre soube que um abençoado muito feio e desmantelado, era o Cão chupando manga.
* É médico sanitarista