Por Antônio Samarone *
Os estudos apontam a concentração do “bolsonarismo” entre algumas categorias sociais: evangélicos, forças de segurança, milícias, agronegócio e médicos. As motivações bolsonaristas são diferentes, mas a paixão é a mesma.
A surpresa fica por conta dos médicos. Essa paixão é generalizada entra os esculápios, concentrada entre os economicamente bem-sucedidos. O que move politicamente os médicos? Não sei!
A imensa maioria dos médicos vive do seu trabalho. Economicamente, são trabalhadores. A paixão bolsonarista é de ordem ideológica.
Não existe um bolsonarismo real e um bolsonarismo esclarecido. Não! Bolsonaro é um mito para os seus seguidores. A paixão não permite divergências. A certeza de que as urnas eletrônicas são fraudulentas é generalizada entre eles. O “terraplanismo” é bem aceito e o pensamento de Olavo de Carvalho é um guia.
Quais as motivações políticas atuais dos médicos bolsonaristas? Também não sei. Em Sergipe, essa tendência à direita dos médicos é antiga.
Os ideais tenentistas da Revolução de 1930 foram sufocados em Sergipe. Os usineiros, liderados pelo Coronel Gonçalo Rollemberg do Prado, dono da Usina Pedras, fundaram a “União Republicana de Sergipe” (URS). Um Partido da oligarquia açucareira apoiado pela Igreja Católica (LEC). Um partido da velha ordem.
A cerimônia de fundação do União Republicana de Sergipe ocorreu na Usina Pedras, em Maruim, num laudo banquete, para cem talhares, regado a champagne cristal rosé e vinhos finos. O banquete foi animado por uma orquestra baiana.
A União Republicana de Sergipe defendia um “liberalismo intervencionista”, segundo o mestre Ibarê Dantas.
Na primeira eleição, em 1933, a União Republicana de Sergipe lançou quatro candidatos ao parlamento federal, sendo três médicos (Augusto Leite, Eronides Carvalho e Moacyr Rabelo Leite). Augusto Leite foi eleito.
Nas eleições para a Constituinte estadual (1934), a União Republicana derrotou o governo tenentista de Augusto Maynard, elegendo dezesseis, dos trinta deputados. Como consequência, a Assembleia Legislativa elegeu indiretamente os médicos Eronides Carvalho para governador e Augusto Leite para o Senado.
Os usineiros governaram Sergipe com o médico Eronides Carvalho, entre 1935 e 1942. Um período trevoso, onde preponderou o império da violência e da perseguição política. O Governo de Sergipe aplaudiu com entusiasmo o golpe do Estado Novo de 1937.
Contraditoriamente, o golpe de 1937 cassou o mandato de Augusto Leite. Para o bem da boa medicina, o notável médico deixou a política partidária.
Para agradar a Getúlio Vargas, os usineiros de Sergipe fecharam as portas da União Republicana de Sergipe, com o Estado Novo (1937).
Posso citar outros momentos da história de Sergipe, mas não vejo necessidade.
* É médico sanitarista