A recente disparada de preço dos alimentos esvaziou o carrinho dos consumidores e os obrigou a optarem por itens mais pobres em nutrientes. Com a elevação da demanda no movimento de substituição, os produtos considerados “inferiores” ganharam um sabor ainda mais amargo e passaram a pesar no bolso das famílias.
Entre os itens de baixa nutrição com salto acima da inflação nos primeiros sete meses de 2022 aparecem o macarrão instantâneo (+21,84%), a salsicha (+7,1%) e as massas semipreparadas (+9,19%), de acordo com dados do IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Matheus Peçanha, pesquisador do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), explica que os alimentos considerados inferiores são sempre mais atingidos pela inflação em momentos de redução da renda das famílias.
Aceleração de preço
“Parte dessa dinâmica de demanda contribui para a aceleração de preço desses bens inferiores e, por mais que eles apesentem uma variação acima da inflação, eles seguem mais baratos do que aqueles bens considerados comuns”, afirma Peçanha.
Fernanda Mansano, economista e professora de Análise de Cenários Econômicos no Ibmec-SP, afirma que o movimento pode ser explicado pelo salto da inflação geral, que diminuiu o poder de compra da população. “O brasileiro passou a consumir alimentos inferiores na comparação com aqueles que têm um valor nutritivo maior, mas que custam mais caro”, avalia.
Ao citar especificamente a possibilidade de substituição do arroz pelo macarrão, Fernanda destaca a influência da valorização do dólar sobre os grãos. “Nós observamos um aumento do preço do arroz e aqueles consumidores com a faixa salarial menor, das classes C e D, são os primeiros a trocar um item por outro de menor valor nutricional”, ressalta ela.
Diante do cenário, Peçanha recorda que o arroz e o feijão também são classificados como bens inferiores, apesar da qualidade nutricional mais abundante, o que alavancou o preço dos itens no ano passado. “Com a superação da seca, as altas foram devolvidas até o estabelecimento da inflação no nível dos alimentos em geral.”.
Fonte: Portal R7 (Foto: Pixabay)