Mega-Sena acumula e prêmio vai a R$ 42 milhões
28 de agosto de 2022
As ilhas de São Cristóvão
28 de agosto de 2022
Exibir tudo

As loucuras da psiquiatria

Por Antonio Samarone *

“os médicos pensam que fazem muito pelo paciente quando dão um nome a sua doença” – Immanuel Kant.

A psiquiatria orgânica iniciou o século XX buscando terapias de choque ou biológicas para intervir nas doenças mentais. Houve uma corrida sem sucesso em busca da localização dessas doenças na estrutura cerebral, uma base material.

As terapias de choque avançaram com a descoberta que a Sífilis podia afetar o Sistema Nervoso Central e causar danos cerebrais através de um treponema, gerando uma doença chamada de “Paralisia Geral Progressiva” (PGP).

Nesta doença havia um evidente agente etiológico: o “Treponema pallidum”, que age no sistema nervoso e alcança o cérebro de maneira lenta e progressiva, provocando disartria, alucinações e comprometimentos motores que acabam por levar o paciente ao óbito.

O médico austríaco Wagner von Jauregg, em 1917, observando que a Malária provocava nos doentes febres mais duradouras e mais fortes, procurou meios de aplicar de maneira artificial esta doença nos pacientes diagnosticados com PGP tentando assim eliminar o seu agente causal, o “Treponema pallidum”.

Estava criada a malarioterapia. Os hospitais psiquiátricos passaram a experimentar esse tratamento na demência precoce (esquizofrenia) e em outras doenças mentais. Entenderam? A psiquiatria passou a provocar uma doença (a malária) visando currar as doenças mentais.

Por esta loucura, o Dr. Wagner von Jauregg, foi contemplado com o Prêmio Nobel em Medicina, em 1927.

Vários psiquiatras buscaram analisar os possíveis efeitos benéficos dos ataques epiléticos na cura de determinadas doenças mentais. As convulsões teriam um efeito terapêutico. “A dor maior, cura a dor menor”.

Teve início à procura de substâncias capazes de provocar “convulsões terapêuticas”, elegeu-se a cânfora para a obtenção de seu propósito. Pouco essa técnica foi substituída pelo Cardiazol.

O Cardiazol é o nome comercial do Pentametilentetrazol, fabricado na década de 1920 pelo laboratório “Knoll”. “O Cardiazol atua sôbre o sistema nervoso, determinando convulsões pela excitação dos centros subcorticais. Segundo Blume, o Cardiazol age também sobre a medula, atingindo o segmento sensitivo do arco reflexo”.
Os hospitais psiquiátricos entraram na Era do Cardiozol.

O psiquiatra húngaro Laudislau von Meduna é considerado o fundador desta técnica terapêutica, divulgada por ele em 1936. Usando a convulsoterapia no tratamento da esquizofrenia, ele ficou famoso no mundo.

Psiquiatra genuinamente organicista, Von Meduna chefiou o Laboratório Histológico da clínica psiquiátrica de Budapeste e com base em seus estudos sobre lesões e anatomia patológica do cérebro, desenvolveu experiências envolvendo as crises convulsivas no tratamento das Esquizofrenias.

Com a metodologia da Convulsoterapia desenvolvida, Laudislau von Medunafoi premiado por sua “descoberta” e ganhou fama entre a comunidade médica internacional.

O uso da eletricidade em Psiquiatria passou a ser cogitado após o uso em larga escala do Cardiazol, uma vez que já se sabia que, com uma voltagem específica, a corrente elétrica, aplicada nas têmporas dos seres humanos, provoca uma crise convulsiva semelhante à da Epilepsia.

Ugo Cerletti, juntamente com Bini, na tentativa de tornar as convulsões terapêuticas mais eficientes, pesquisou a possibilidade de serem efetuadas convulsões elétricas, cuja primeira comunicação foi apresentada no “Encontro da Associação Psiquiátrica Suíça”, realizado em Müsinger, Berna, em maio de 1937, e em 1938 foi realizada a primeira aplicação de uma corrente elétrica em um paciente esquizofrênico, com melhoras.

A eletroconvulsoterapia (ECT) se tornou uma panaceia em psiquiatria. Essa técnica medieval, com alguns reparos, continua em uso pela psiquiatria organicista de mercado.

Ugo Cerletti, pela descoberta do eletrochoque, recebeu o Prêmio Nobel em Medicina, em 1948.

Outra loucura da psiquiatria foi o uso a lobotomia terapêutica. Isso mesmo, destruíam o lobo frontal da cérebro, para acalmar os pacientes.

O neurologista português Egas-Muniz (foto), também foi ganhador do Prêmio Nobel em medicina, em 1949, por ter criado a lobotomia pré-frontal e utilizado em pacientes que não respondiam a outras medidas terapêuticas, bem como em obsessivos e melancólicos. A primeira lobotomia foi realizada em 1935.

A era dos psicotrópicos.

Em 1949, o cirurgião francês Henri Laborit usou a clorpromazina procurando reduzir o choque cirúrgico. Percebeu, que os pacientes ficavam com o comportamento alterado. Estava descoberto, sem querer, o primeiro antipsicótico.

Em 1952, os hospitais psiquiátricos passaram a usar a clorpromazina no tratamento da esquizofrenia.

Em 1958, a Geigy lançou a imipramina no mercado, o primeiro antidepressivo. Foi sucesso imediato.

A terceira substância de uso psiquiátrico, foi o lítio, como estabilizador das oscilações do humor. O lítio foi usado por John Cade, médico do exército australiano, para dissolver o ácido úrico, em porquinhos da Índia. Também sem querer, percebeu que os porquinhos ficavam calmos, com o uso do lítio.

Em 1949, John Cade utilizou um teste com lítio em pacientes com mania, psicose e melancolia.

A partir das descobertas dos psicotrópicos, a Indústria farmacêutica em parceria com a psiquiatria orgânica, assumiram a hegemonia da narrativa psiquiátrica, levando a onde estamos. O DSM é o principal produto intelectual dessa abordagem.

* É médico sanitarista

Compartilhe:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *