Por Eduardo Marcelo Silva Rocha *
Conheci Jácome Góis em 1998, logo após meu ingresso na Polícia Militar, era nosso professor no curso de formação.
Confesso que não lembro qual o nome específico da disciplina, mas basicamente era – ao menos em minha memória – uma extensão daquilo que ele fazia em seu programa de TV, à época: trazer uma mensagem consoladora, edificante ou motivacional.
Acho que poucos levavam a sério o que ele se dispunha a nos oferecer naqueles encontros. Não me excluo do todo, pois também era um dos que passava o dia correndo, pagando 10 flexões, ouvindo desaforos a todo momento, fazendo faxina, sendo chamado de monstro e, principalmente, com medo de ficar preso devido ao cadarço desamarrado ou pela fivela que apesar de limpíssima, não estava perfeitamente brilhando. Acho que Maslow e Herzberg são capazes de nos explicar porque nossa percepção, naquela situação não tinha condições de entender a grandeza do que nos era ofertado.
Sendo um bom sincericida, não pretendo tecer loas gratuitas ou oportunistas. Como pouco o conheci, tenho certeza que não era perfeito, pois todos nós vivemos cada dia lutando contra nossas más inclinações tentando seguir apenas as boas. É uma luta!
Mas o fato era que ao menos uma boa inclinação dele eu testemunhei e me beneficiei, como claramente posso entender hoje.
Dentro daquela rotina que vivíamos, semanalmente ele estava lá, sem nenhum interesse financeiro – ao menos as informações que tínhamos era que ele se dispunha a nos ensinar de graça – levando sua palavra de conforto, um verdadeiro bálsamo imperceptível, que amenizava a dureza daqueles dias de formação.
Éramos beneficiados, mas não percebíamos, pior, era – obviamente sem saber – mais uma vítima das piadas que nós alunos fazíamos com tudo e todos, como meio de descomprimir o dia a dia.
Bom, o fato é que nunca me esqueci do desprendimento dele nesse sentido e sua marca permanece viva comigo, pois sou useiro e vezeiro em, gratuitamente, dar palestras e aulas em órgãos de segurança pública que me convidam. Isso afirmo, pois olhando em perspectiva, apesar de outros exemplos nesse sentido, foi o Professor Jácome o primeiro que me apresentou essa possibilidade já em minha vida profissional.
De lá para cá, somente estive com ele mais uma ou duas vezes que pude cumprimentá-lo, apesar de certamente não o ter agradecido por tudo que hoje consigo enxergar resultante daquela troca em sala de aula, nas quais dele só tínhamos compreensão, bom humor e carinho!
Finda sua passagem reencarnado, sei que na luta que travou aqui no planeta, de minha parte testemunhei sua vontade de dividir com o próximo – apenas por amor – algo de bom, ou seja, o exercício de uma de suas boas inclinações!
Obrigado, meu amigo! Que o acolhimento em sua nova morada seja o mais amoroso possível e que logo esteja pronto para os novos desafios no caminho de Deus!
Como diz o companheiro “que a terra lhe seja leve!”
* É tenente-coronel da Polícia Militar de Sergipe.