Considerado o maior satanista brasileiro, o Papa do Diabo Luiz Howarth, 79 anos, está vivo e mora em Vitória (ES). Apesar da idade, preserva a mesma fala mansa do final da década de 70, quando aportou em Aracaju disposto a ganhar a vida como astrólogo e representante do satanás. Hoje, ele se ocupa de “consultar” casais com dificuldades no casamento e pessoas em busca do autoconhecimento
A gentil e brejeira figura satânica, um senhor miúdo, de barba branca, mantem a mesma fisionomia de quando receitava aos fiéis suas “milagrosas” velas CE, no Centro Astral que levava o seu nome, alí na esquina da Avenida João Ribeiro com rua Santa Rosa, próximo à rodoviária velha. Em 2017, ao ser entrevistado pelo jornalista Antônio Mammi, da Revista Piauí, o Papa do Diabo explicou porque resolveu morar em Aracaju.
Na verdade, ele estava indo para o Rio de Janeiro, mas como o dinheiro acabou no meio da viagem, decidiu permanecer um tempo em Sergipe. Conseguiu um horário na rádio Liberdade e passou a apresentar um programa matinal como o astrólogo Luiz Howarth. O negócio deu certo e ele foi ficando. Primeiro montou o Centro Astral e depois, já auto-intitulado Papa, construiu uma Igreja do Diabo no povoado Parques dos Faróis, em Nossa Senhora do Socorro. Na época, tinha uma Kombi, dirigida por um sujeito boa praça que atendia por Jesus.
Época de prosperidade
O negócio do diabo começou a prosperar. Howarth faturava como astrólogo, vendia dúzias e mais dúzias de Vela CE que, feitas à base de petróleo, queimavam por mais de 15 dias, e arregimentava generosos fiéis desconsolados com a carência de milagres financeiros pras bandas da Igreja Católica. Na época, não havia a febre dos neopentecostais. Entusiasmado, o Papa decidiu construir sua própria igreja, um prédio em formato de caixão de defunto e pintado de preto. O empreendimento chamou a atenção da Rede Globo, que mandou uma equipe a Sergipe para entrevista-lo.
Nem precisa dizer que o sucesso do Papa do Diabo despertou o ciúme dos líderes católicos. Injuriados com o concorrente, bispo, arcebispo e padres pressionaram o governo para demolir a estranha Igreja: “Onde já se viu uma coisa dessa? Sergipe com um templo para Lúcifer”, berrava o arcebispo. Não deu outra: o governador da época chamou Howarth em Palácio e perguntou quanto ele queria para derrubar a Catedral. Percebendo a pressão, o Papa deu o preço e o governo pagou para demolir o que os católicos chamam de a casa do demônio.
Portas fechadas
Depois disso, as portas começaram a se fechar em Aracaju para Howarth, que resolveu bater em retirada. Foi dar com os costados em Vitória do Espírito Santo. Lá, o Papa do Diabo desfrutou de renome nacional na década 90, quando tinha programa no rádio e marcava presença na tevê, em jornais e em revistas. Frequentemente, em seu programa, dizia-se capaz de falar com almas penadas e disseminava crenças muito particulares, que mesclavam o candomblé e o espiritismo. E com esse discurso cavernoso, vendia suas velas a rodo, enquanto faturava como astrólogo.
Os últimos anos, porém, não têm sido muito generosos com o Papa do Diabo. Segundo conta o jornalista da “Piauí”, ele não comanda programas de rádio nem aparece “na grande mídia” há algum tempo. “O 2º andar de sua residência, outrora palco de cultos semanais, está praticamente abandonado, e as paredes carecem de uma mão de tinta”. A reportagem da revista Piauí prossegue: “Howarth também precisou encerrar a fabricação de velas, sua principal fonte de renda, depois que um assistente morreu intoxicado por uma das matérias-primas. Mas esporadicamente ainda consegue vender livros de viés demoníaco e continua no ramo do aconselhamento espiritual”.
Atacado pela Universal
Embora não atribua seu ostracismo ao crescimento dos neopentecostais, gosta de relembrar um episódio conflituoso envolvendo a Igreja Universal do Reino de Deus. Há alguns anos, pastores desta ramificação evangélica mandaram um carro de som parar bem em frente à casa dele e reproduzir ininterruptamente cantos de louvor. “O cabra estacionou logo ali e deixou o som cantando. Vez ou outra, pegava o microfone para me esconjurar”, conta.
Apesar dos pesares, Howarth não guarda rancor dos adversários espirituais e até sustenta a teoria de que suas práticas obscuras são úteis à fé dos evangélicos. Relaxado, entrelaçando os dedos por trás da cabeça, pontificou: “Na verdade, os crentes gostam da gente. Se não fosse o Diabo, quem é que ia para a igreja deles? O cabra não vai porque acredita em Deus; vai para que o Diabo não o carregue”, diz sorrindo.
Com informações da Revista Piauí. Fotos: Facebook de Luiz Howarth