Mitidieri reparte o bolo em generosas fatias
22 de dezembro de 2022
Natal terá frota extra de ônibus para o interior
22 de dezembro de 2022
Exibir tudo

A prata de Itabaiana

Por Antonio Samarone *

Antes da chegada dos Sesmeiros para fundarem o Arraial de Santo Antonio e Almas de Itabaiana, os europeus por aqui andaram esgravatando a Serra em busca de prata.

O interesse pelo Brasil não era por terras férteis, pássaros e animais raros, paus de tintas preciosos, nada disso, a prata era o grande sonho do século XVI. A prata era um negócio da China, literalmente.

Havia entre os nativos a lenda da uma serra branca, toda de prata. O primeiro a aventurar-se no sertão em busca dessa serra foi João Coelho de Souza. Embrenhou-se sertão adentro por três anos, vindo a falecer de sezão. Os segredos das descobertas ficaram com o irmão, o famoso Gabriel Soares, o mesmo que escreveu o Tratado Descritivo do Brasil.

Gabriel Soares também morreu abandonado nas matas em busca da Serra da Prata. Quem ficou os mapas das minas? Melchior Dias Moreia, neto de Caramuru e primo de Gabriel Soares se apresenta com herdeiro.

Melchior Dias Moreia, vivia no sertão do Rio Real, atual Tobias Barreto. homem abastado de terras e de bens, filho de Vicente Dias, português e fidalgo e da mameluca Genebra Álvares, filha do Caramuru.

De posse dos mapas, embrenhou-se Melchior Dias Caramuru por oito anos nas Serras de Itabaiana e Jacobina em busca da prata.

Oito anos de sertão! Oito anos atrás da serra da prata! Tão longa se tornou a ausência, e tão sem notícias, que, ao cabo desses compridos oito anos, a gente do Caramuru já o supunha morto por esses matos.

Foi o espanto para todos, surpresa para mulher e filhos, que um dia surgiu em sua fazenda do Rio Real, inesperado, asselvajado, avelhentado, vestido de gibão de anta, a figura peluda do baiano desbravador Melchior Dias Caramuru.

O homem descobriu as minas de prata da Serra de Itabaiana.

O Caramuru não se fez de rogado, enfiou o roteiro das minas na sacola de couro, meteu-se num galeão e partiu em direção a Madri, disposto a revelar ao soberano o segredo da prata. Naquele período vivia-se sobre o domínio da União Ibérica.

O Caramuru, em troco da revelação das minas de prata pleiteou para si a alta nobreza de marquês. Sim, o neto de Caramuru pretendeu, nada mais nada menos, do que ser afidalgado com o título de Marquês das Minas.

Melchior Dias ficou quatro anos na corte dos Felipes à espera da mercê. Que ousadia, dizia a nobreza espanhola: um caboclo da Capitania de Sergipe, um mameluco encoscorado, filho de índia e branco, cerdoso, mãos encodeadas, ia ser galardoado com a magnificência de Marquês das Minas.

Melchior Dias retornou a Sergipe sem o brasão, com a promessa que receberia à Mercê depois que mostrasse o local da mina de prata. Criou-se um impasse: o Caramuru, por seu lado dizia, me conceda a mercê que eu mostro a mina. Uma crise de desconfiança.

O Governador Geral do Brasil, Dom Francisco de Souza. fincou pé, primeiro mostre a mina.

Depois de muitas idas a vindas, muita insistência do Caramuru, o governador de Pernambuco, Luiz de Souza resolveu ir pessoalmente acompanhar Belchior Dias ao local da mina, garantindo a liberação das mercês.

D. Luiz de Sousa não veio só, foi acompanhado do governador da Bahia. trouxe muitos de negros e uma soldadesca numerosa em busca das minas de prata.

Partiram da Bahia os dois governadores com Melchior Dias, que os levou direito a serra de Itabaiana”. Itabaiana, era a serra encantada? Sim, Itabaiana era a famosa serra da prata!

Chegando a Itabaiana disse Melchior Dias aos governadores que Suas Senhorias estão com os pés sobre as minas. Estavam com os pés sobre as minas, faltava agora que o Caramuru indicasse a lombada onde deveriam roncar os alviões.

Um gesto do sertanista, um simples gesto – e eis afinal desvendadas as jazidas de prata!

Melchior Dias insistiu: onde está o decreto com o meu título de Marques. Me mostrem o papel que eu mostro as Minas. Para surpresa do Caramuru existia o decreto de Marques das Minas, não para ele, mas para o fidalgo governador Luiz de Souza;

No início do século XVI, travou-se uma grande polêmica no alto da Serra de Itabaiana: exclamava Melchior Dias, como? Mostrar eu as minas a essa gente falsa antes de ter em mãos o alvará das mercês? Jamais!

E o Governador D. Luiz de Sousa por seu turno: Como? Entregar eu o alvará esse caboclo antes de ver as minas?

E não houve acordo a partir de então, entre o governador e o caboclo. Itabaiana saiu perdendo. Porém não existe dúvidas, foi lá que se iniciou o famoso ciclo do ouro no Brasil e Minas Gerais levou a fama.

Encurtando a história, Melchior Dias não revelou o local das minas, não recebeu à mercê e acabou preso e humilhado.

Melchior Dias, tal como João Coelho, Gabriel Soares, pagou o tributo dos desbravadores. Certo dia, o descobridor das minas de prata da Serra de Itabaiana, amanheceu morto no seu engenho em Tobias Barreto, por volta de 1619.

Grande prejuízo para Itabaiana. O local da mina continua desconhecido ou conhecido por poucos. O certo, a cidade é hoje um grande centro de produção e venda de joias e pedras preciosas, sem que se saiba a origem da matéria prima.

* É médico sanitarista

Compartilhe:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *