Por Antônio Samarone *
O símbolo da medicina é uma serpente que sobe pelo bastão de Asclépio. Esse símbolo remonta aos primórdios da humanidade. Os romanos deram a Asclépio o nome de Esculápio.
O bastão é um símbolo do poder, como o cetro dos reis e o báculo dos bispos; símbolo da magia, como a vara de Moisés; apoio para as caminhadas, como o cajado dos pastores.
A serpente é o símbolo do bem e do mal, da saúde
e da doença; da astúcia e da sagacidade; símbolo do poder de rejuvenescimento, pela troca periódica da pele; ser ctônico, elo entre o mundo visível e o invisível.
No Paraíso, a serpente era o prolongamento do braço do demônio, que levou o homem ao caminho do desenvolvimento.
A serpente está presa à terra como nenhum outro animal, tanto devido ao banimento divino ocasionado pelo pecado original como por sua forma.
A serpente, além de seus dois dentes que injetam veneno, ela possui a língua bifurcada, um símbolo da deslealdade, da discórdia e da desunião. Ela possui a capacidade de deixar radicalmente para trás o velho e o já vivido e a cada ano, ao trocar de pele, estabelece um início totalmente novo.
Mas ela tem acima de tudo o veneno, que pode matar e curar. Na Antiguidade, a serpente era mantida nos templos sagrados de Asclépio.
Recentemente, a medicina de mercado propõe substituir o bastão de Asclépio pelo Caduceu de Hermes, o deus grego do comercio. Os romanos deram a Hermes o nome de Mercúrio, de merx, que quer dizer mercadoria, negócio.
A medicina de mercado também questiona o Juramento de Hipócrates, sobretudo a visão da medicina como um sacerdócio (ócio sagrado). Acreditam ser a medicina um negócio.
No dizer popular, o símbolo da medicina é uma cobra, porque ela sempre cobra. Se a medicina curar cobra, se remediar cobra, se matar também cobra. A medicina sempre cobra.
* É médico sanitarista.