José Lima Santana*
Abomino os extremismos. De direita e de esquerda. Digo isso antes que alguém (como já aconteceu algumas vezes) me rotule de direitista ou de esquerdista. Sou cidadão brasileiro, defensor da Democracia. E se esta é ameaçada, eu me posiciono com dureza em seu favor. Não sei agir de outro modo. Sou assim na minha Paróquia, na minha sala de aula, em qualquer ambiente, e sou assim a todo tempo, desde o curso ginasial. Agora, beirando os 68 anos, não tenho porque mudar. Goste quem quiser gostar do que eu escrevo e venho a publicar. Ou quem me possa ouvir, nos lugares onde eu tenho que falar.
Estarrecido, assisti aos desmantelos institucionais e bestiais, aqueles vindos de algumas autoridades dementes ou coniventes, e estes vindos da turba de bandidos, travestidos de “patriotas”, clamando pela “defesa do Brasil”, mas, na verdade, propugnando pela derrocada da Democracia. Golpistas e vândalos.
Bandidos insuflados, coordenados ao longe e financiados por bandidos ainda maiores, se é que se pode diferenciar o tamanho de bandidos, em casos que tais. Talvez possa, sim. Contudo, dentre os bandidos usados pelos bandidos, muitos daqueles tornaram-se insanos por conta própria ao absorverem as falácias saídas dos arraiais da torpeza política, encastelada, por 4 anos, no Palácio do Planalto e esparramada pelas “células” montadas por vários “patriotas” de araque sob o direcionamento do que se convencionou chamar “gabinete do ódio”.
Não se deve desconhecer, claro, que muitos eleitores do ex-presidente têm intenções de apenas defender seus princípios direitistas, à luz da legalidade. Afinal, todos têm o direito de defender, democraticamente, os seus pontos de vista político-partidário ou político-social, ou sócio-político-econômico. Sim, têm sim. Esquerda, direta ou centro, todas as posições devem ser respeitadas. Mas, devem ser combatidos todos os desvirtuamentos que chegam ao terror dos extremismos. De direita ou de esquerda.
Inconcebível, porém, o que ocorreu em Brasília. A horda de bandidos mais parecia a horda de Átila, o huno, Pior, muito pior. Turba ensandecida. Destruidora. Criminosa. Não há lugar para essa gente na sociedade que se rege por uma Constituição e por todo um aparato legal, que forma o Ordenamento Jurídico Brasileiro.
Queriam, por acaso, Lula fora da presidência da República? Ganhassem a eleição. Perderam. Aguardassem o próximo pleito. Não souberam perder? Pior que isso: não aceitariam perder. Queriam a vitória nas urnas ou na marra, na força bruta, na selvageria. Não passaram nas urnas. Na Democracia, um voto, um só voto a mais dá a vitória a quem a obtém legalmente. O governo da maioria é resultado da ação democrática. Como sabiam que não passariam nas urnas, já temerosos disso, há muito tempo, urdiram uma ideia velhaca de que a eleição futura (essa de outubro passado) seria fraudada. Todavia, para eles seria fraudada somente a eleição presidencial. Mentes perversas.
Não sou petista, nem lulista. Aliás, exerci cargos comissionados em governos da direita sergipana e da centro-esquerda (se isso for mesmo adequado de dizer): nos três governos de João Alves Filho, no de Valadares, no segundo mandato de Albano Franco e, na Prefeitura de Aracaju, nas gestões de Jackson Barreto (segundo mandato) e Almeida Lima. Aliás, quando eu fui trabalhar na reitoria da UFS com o reitor Angelo Antoniolli, em 2013, algumas pessoas de lá me viram atravessado, exatamente por conta da minha participação nas gestões declinadas. Besteira. Um técnico (e foi o que eu procurei ser), não se limita à direita ou à esquerda para servir. Quando convém servir. Portanto, quem me lê não me rotule de esquerdista ou de direitista. Tento ser um democrata. Não compactuo com extremismos ou atitudes golpistas, venham de onde vierem. Muito menos com ações de bandidos, travestidos de falsos “patriotas”, embora, repito, reconheço que há, nas hostes bolsonaristas, quem apenas defende os seus lídimos ideais conservadores, sem os desvarios de cunho acentuadamente fascista, como os atos dos bandidos que causaram danos aos prédios dos três Poderes.
Que sejam exemplarmente punidos os desafiadores do Estado Democrático de Direito. Quaisquer que sejam eles. A Democracia brasileira não cairá.
*É padre da Igreja Católica e professor do curso de Direito da Universidade Federal de Sergipe