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“Gostava tanto de você”

Por Sérgio Lucas *

A música feita para a filha que morreu aos 15 anos?

Essa é mais uma daquelas histórias que os “entendidos das lendas da MPB” fazem questão de contar nas rodas de conversas embaladas por boa música para impressionar os neófitos com sua erudição e o seu conhecimento sobre “os segredos que nunca foram revelados”. Basta tocar o famoso refrão: E eu, papapapapá, gostava tanto de você…, para que alguém inicie um diálogo com: você sabia que….?

Confesso, um pouco envergonhado, que já acreditei nessa versão fantasiosa, a ponto de cantar essa música com uma reverência própria aos réquiens; mormente por, supostamente, se tratar de uma triste despedida de um pai à sua filha precocemente falecida.

Porém, o espírito irrequieto, aliado à facilidade da pesquisa cibernética, não se conformava com essa trágica notícia histórica que batia de frente com as etílicas interpretações dos tempos de Gosto Gostoso e Acauã (entendedores entenderão). Estava tudo tão verossimilmente arrumado que cheirava a armação.

Com inquietude de espírito e empunhando palavras-chaves recorri aos sites de busca, que tanto causam frustrações aos “doutores dos mistérios”, sem resquícios de saudades da Barsa e da Delta Larousse, essas duas aristocratas que nunca se importaram com nossas curiosidades mundanas.

Deixemos de arrudeios: a música foi composta nos anos cinquenta e o seu autor, Edson Trindade, sequer atingira a maioridade. De onde canço tiraram a ideia de que ele tinha uma filha com 15 anos e esta ceifara a própria vida?

A canção foi gravada no início dos anos setenta e, até hoje, é um dos maiores sucessos do nosso soul-man, Tim Maia.

Pois bem, é tempo de deixarmos de lado a fantasia e assumir que a música é linda, integra a nossa playlist de clássicos e, por mais que pareça frustrante para os fuçadores de sigilos, ela é exatamente o que aparenta ser: uma triste dor de cotovelo por causa de um amor que chegou ao fim.

Como bônus por sua persistência curiosa, informo que o autor dos versos conseguiu tocar o coração da sua musa, a amada Mari, eles reataram o namoro, casaram-se e tiveram quatro filhos.

* É poeta, músico, escritor e magistrado sergipano.

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